Além do trabalho escravo, crianças sofriam maus-tratos, passavam fome e eram obrigadas a roubar para o padrasto
Um caso de abuso e tortura contra três irmãos menores, ocorrido no assentamento Morrinhos, entre Flores de Goiás e Formosa (GO), a 260km do Distrito Federal, mobilizou o Conselho Tutelar de Santa Maria. As crianças, de nove, 12 e 13 anos, foram resgatadas nesta quarta (2/8) por um casal brasiliense que tem um lote no local e mantinha contato com elas para ajudá-las.
O suspeito dos maus-tratos e tortura é o padrasto dos meninos e pai do mais novo. Eles trabalhavam longas jornadas, inclusive madrugadas, e eram obrigados a cometer crimes. Segundo o Conselho Tutelar, que recebeu os três, eles narraram que o homem os ameaçava com facão e até com arma de fogo.
Contaram que já ficaram de castigo dentro de um buraco e o padrasto já os teria afogado e pendurado eles de cabeça para baixo. Todos chegaram ao Conselho Tutelar sujos, famintos e com muitas cicatrizes.
Os três trabalhavam fazendo cercas, desossando gado, preparando a carne e ordenhando vacas. Porém, afirmaram que eram proibidos de tomar o leite. Além disso, as crianças contaram que eram obrigadas a cometer pequenos furtos na vizinhança, de madeira, arame das cercas vizinhas e até de gado. Eles também não frequentavam a escola.
As crianças foram acomodadas numa instituição de acolhimento no Distrito Federal, por determinação da Vara da Infância do DF. O Conselho Tutelar de Formosa será notificado e ficará responsável pelo aviso às autoridades do estado de Goiás. O padrasto, suspeito de tortura e trabalho escravo, também pode ser acusado de aliciamento de menor. Ele não foi preso.
Fuga planejada
As crianças planejaram a fuga depois de ameaças do padastro com uma arma de fogo. Ele teria colocado um revólver na cabeça deles. Elas contaram que o homem sempre andava armado. Os três buscaram abrigo na vizinhança, mas não conseguiram. Algumas pessoas negaram ajuda por medo do suspeito.
Ainda segundo o Conselho Tutelar, um casal que é dono de um lote no assentamento e mora em Santa Maria vinha desenvolvendo uma relação de confiança, visando ajudar as crianças. Eles disseram que tinham deixado os números de telefone com os três para qualquer problema.
Quando receberam o chamado, decidiram buscar os irmãos de madrugada, para evitar que o padrasto atrapalhasse o resgate. As três crianças deixaram para trás a mãe grávida e dois irmãos, de quatro e seis anos. Pela lei, serão procurados parentes próximos para acolhimento, além de solicitadas medidas protetivas.