Velório dos procuradores assassinados em Mato Grosso é acompanhado por centenas de parentes, amigos e autoridades, no Cemitério Campo da Esperança
Familiares, amigos e autoridades do Poder Judiciário local e nacional se reuniram para prestar a última homenagem aos procuradores Saint-Clair Martins Souto, 78 anos, e Saint-Clair Diniz Martins Souto, 38 anos. Pai e filho foram mortos brutalmente na fazenda de propriedade da família no município de Vila Rica (MT), a aproximadamente 1,3 mil quilômetros de Cuiabá. Enquanto a tristeza e a incredulidade tomavam conta do Cemitério Campo da Esperança, na Asa Sul, a Polícia Civil de Mato Grosso investiga a possível participação de mais uma pessoa no duplo homicídio. A Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO) do estado também suspeita que o criminoso possa fazer parte de uma quadrilha de roubo de gados.
Na tarde de ontem, a capela 10, onde os corpos estavam sendo velados, ficou pequena para tanta gente. As viúvas dos dois advogados eram consoladas por amigos e parentes. Nas feições das pessoas, o semblante de consternação e solidariedade. Entre as lembranças, o profissionalismo e o amor à família de pai e filho predominavam. Os corpos foram velados em caixões fechados. Sobre cada um, a foto das vítimas. As coroas de flores ocuparam três carrinhos do cemitério. Estiveram presentes o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB); o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil do DF (OAB-DF), Juliano Costa Couto; e o presidente da Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do DF (Anape), Marcelo Terto.
Sobrinho do procurador aposentado Saint-Clair Souto, o servidor público Elvecio Martins Soares Souto, 56 anos, contou que a viúva do advogado, Elizabeth Diniz, falou com o assassino na manhã de segunda-feira para ter notícias do marido e do filho. “Como o contato na fazenda é impossível, ela ligou para o Bonfim. Ele disse que os dois tinham antecipado a viagem para o sábado e deveriam ter chegado no domingo a Brasília, porque a viagem demora um dia. Ele ainda dissimulou outros dados, mas disse que pegaria a moto e iria à fazenda a fim de saber de mais alguma coisa. Essa informação foi dada pelo assassino depois que ele já tinha executado pai e filho”, contou.
Proximidade
Segundo o servidor público, a relação da família com o assassino era tão próxima que José Bonfim tinha visitado a fazenda da família em Unaí, frequentado a casa das vítimas e até a de Elvecio. “De dois a três meses, meu tio ia até lá e costumava andar a cavalo com ele (José Bonfim), como aconteceu na hora da morte. A desconfiança começou quando o vaqueiro não atendeu mais as ligações. Imaginávamos que ele poderia ter algum envolvimento em outra ocasião, como um latrocínio (roubo seguido de morte), mas nunca desse jeito”, alegou. Elvecio contou que a viúva do idoso perdeu recentemente duas irmãs. “Ela é uma fortaleza, mas ninguém é forte o suficiente para um caso desses”, lamentou.
Sócio dos advogados desde 1996, Paulo Marcelo de Carvalho também reforçou o contato da viúva do idoso com o funcionário da propriedade rural. “Na segunda-feira à tarde, como ele (José Bonfim) não retornava contato, ela (Elizabeth Diniz) conseguiu falar com outra pessoa de Vila Rica. Foi aí que ficamos sabendo que o vaqueiro não estava mais na cidade”, ressaltou. Paulo revelou que a primeira hipótese da família era de um acidente. Após a localização do carro, a suspeita de sequestro ganhou força. Depois do sumiço do vaqueiro, parentes e amigos desconfiaram da participação dele. “Isso começou entre um ano e meio a dois anos atrás, quando sumiram as primeiras cabeças de gado. O Saint-Clair pai chegou a comentar sobre a suspeita dos desvios, mas jamais eles iriam lá para enfrentá-lo”, reforçou.
Dedicados
Um dos primeiros sócios da família, o advogado Luiz Cláudio de Almeida Abreu, 80, mantém relação com os Souto há mais de duas décadas. Para ele, o assassinato foi um crime brutal e gratuito. “Todo mundo está surpreso. Quando acontece com pessoas tão próximas, é um choque. Eles eram figuras extraordinárias. Dedicados ao trabalho, à família e, como amigos, eram os melhores possíveis”, lembrou.