Ação policial contou com cerca de 200 homens e durou 35 minutos. Grupo de invasores era formado por 12 adultos e quatro crianças.
A Polícia Militar do Distrito Federal conseguiu neste domingo (5) retirar todos os invasores do prédio abandonado do antigo hotel Torre Palace, no Setor Hoteleiro Norte, área nobre na região central de Brasília, e concluir a reintegração de posse que teve início na quarta-feira (1º).
A ação, que começou por volta das 6h30 e levou 40 minutos, envolveu dois helicópteros e teve disparos de bala de borracha. Bombas de efeito moral também foram jogadas para intimidar o grupo, formado por 12 adultos, entre eles quatro mulheres, e quatro crianças.
Os invasores, ligados a movimentos sociais, revidaram com pedras, tijolos e telhas. Eles chegaram a usar um fogão e um botijão de gás, incendiando o alto do prédio.
Enquanto isso, policiais subiam pelas escadas retirando as barricadas montadas pelos ocupantes, obrigando-os a subir até o topo do prédio, onde acabaram detidos. Policiais usaram balas de borracha e uma pessoa chegou a ser ferida no rosto.
Cerca de 200 homens do Batalhão de Choque (BPChoque) e do batalhão de Operações Especiais (Bope) participaram da operação, que teve também o auxílio do Corpo de Bombeiros.
Segundo a PM, os ocupantes se renderam às 7h07. As quatro crianças foram as primeiras a serem retiradas. Elas foram atendidas na ambulância do Corpo de Bombeiros que estava no local. Apesar de assustadas, o estado de saúde delas era bom.
Os adultos foram levados ao Departamento de Polícia Especializada (DPE) da Polícia Civil para serem autuados por crimes como tentativa de homicídio, resistência e dano ao patrimônio.
O trânsito pela N1 do Eixo Monumental estava fechado na altura do prédio, por volta das13h45. O mesmo acontecia com o acesso à via pela W3.
Ocupação
O prédio havia sido ocupado em outubro do ano passado. A reintegração de posse teve início na quarta-feira e o grupo resistia mesmo com a determinação do governo de cortar a água, a energia elétrica e a entrega de alimentos. Por causa da operação de desocupação, os arredores do prédio ficaram isolados todos esses dias e o trânsito precisou ser desviado.
Na manhã de sábado (4), a PM levou parentes de invasores para tentar convencer o grupo a deixar o prédio abandonado. O pai de uma jovem de 21 anos, que estava no local com a filha de 3 meses, conversou com a filha, mas não conseguiu convencê-la a sair. A irmã de outra pessoa que está no edifício também foi levada pelos policiais para ajudar nas negociações, mas também não houve sucesso.
Na sexta, o ex-deputado distrital e federal José Edmar foi detido por tentar doar mantimentos ao grupo. O político furou o bloqueio da PM levando uma caixa com produtos como sardinha, ovos, água, álcool de cozinha e pão. Ele pode responder por desobediência. Edmar disse que ficou sensibilizado ao ver que havia crianças no hotel sem alimentos e sem água.
Suspeita de extorsão
Entre os adultos estava o líder do Movimento de Resistência Popular, Edson Silva, preso em dezembro do ano passado por suspeita de extorquir dinheiro de integrantes de movimentos sociais.
Silva é apontado pela polícia como o responsável por forçar um grupo de 80 pessoas, filiadas ao movimento, a pagar entre R$ 50 e R$ 300 aos líderes do MRP. O movimento ocupa o hotel desde outubro do ano passado.
Na época da prisão, a polícia tinha informado que Edson Silva levava uma vida confortável de classe média.
Com o dinheiro supostamente conseguido com o esquema, ele teria comprado um carro avaliado em R$ 85 mil e morava com a mulher em um apartamento em um edifício com área de lazer completa e junto a um parque em Taguatinga. Silva tinha sido preso com outras seis pessoas, incluindo a mulher, Ylka Carvalho.
Para o delegado Luís Henrique Sampaio, titular da delegacia de Repressão ao Crime Organizado, o patrimônio dos suspeitos não condizia com a realidade deles, que diziam militar por moradia. “O líder ocultava essa riqueza. Quando ele ia para o acampamento, passava com o carro longe, porque tinha medo de chamar a atenção.”
Ponto de drogas
O prédio de 14 andares e 140 apartamentos havia se transformado em ponto de uso de drogas e convivência de moradores de rua depois de ter sido desativado pelos donos no início de 2013.
As janelas do edifício têm uma vista privilegiada do Congresso Nacional, da Esplanada dos Ministérios, da Catedral Metropolitana, do Museu da República, da Torre de TV e do estádio Mané Garrincha, todos instalados no Eixo Monumental. Com pichações na fachada, os vidros das janelas e do hall de entrada já tinham sido quebrados em atos de vandalismo.
O Torre Palace foi fundado pelo empresário libanês Jibran El-Hadj e inaugurado em 1973, funcionando por 40 anos em um dos pontos mais valorizados da cidade. Com a morte do patriarca, em 2000, o imóvel passou à gestão dos sete herdeiros, que teriam entrado em desacordo sobre os rumos do hotel.