ENTREVISTA/Miguel Lucena, delegado de Polícia Civil do DF e candidato a deputado federal pelo PTB/DF, número 1444, ao Jornal Toda Hora.
Pergunta – Sendo delegado de Polícia Classe Especial, por que o senhor resolveu se candidatar a deputado federal?
Resposta – Eu me cansei de cumprir leis feitas para beneficiar criminosos e poderosos. Quero chegar à Câmara dos Deputados para lutar pelo fim dos saidões dos presos, lutar para tirar o sistema prisional das mãos do crime organizado e fazer que quem cometa delitos cumpra a pena, sem a farsa de uma progressão sem critérios. No Brasil, o legislador aperta na lei material para afrouxar na processual e de execução penal, enganando a população e beneficiando os criminosos.
P – E quanto aos poderosos?
R – Esses formam uma casta privilegiada que ri dos simples mortais. Gozam de privilégios como auxílios moradia, paletó e pré-escola que variam de 4 mil 7 mil reais, mesmo tendo casa própria, roupa demais e salários altos.
P – O que o senhor vai fazer com a verba indenizatória a que o parlamentar tem direito?
R – É outra vergonha que precisa acabar. Já abri mão dessa mordomia. O parlamentar já conta com subsídio para se sustentar e verba de gabinete para contratar assessores, não precisa de verba indenizatória para consumir gasolina, alugar carro de luxo, comer e beber em restaurantes caros, fazer propaganda e contratar consultoria fajuta às custas da população. Quanto às passagens aéreas, só faz sentido concedê-las aos parlamentares de fora que precisam vir a Brasília toda semana, mas os daqui não precisam pegar avião da Esplanada dos Ministérios a Ceilândia, por exemplo.
P – Se eleito, o senhor vai se concentrar em questões corporativas da Polícia Civil do DF ou vai lutar por outras causas também?
R – Vou continuar lutando pela paridade histórica da Polícia Civil do DF com a Polícia Federal, retirada covardemente pelo governador Rollemberg. Igualmente, lutarei pela recomposição dos efetivos das forças de segurança, reduzidos à metade atualmente, tendo como resultado fraco policiamento ostensivo e 20 das 31 delegacias fechadas. Além das questões respondidas no início, destinarei emendas para que sejam garantidas creches para as 21 mil crianças que estão sem esse direito no Distrito Federal. São crianças que, por culpa de um governo sem ação, vivem negligenciadas, abandonadas e até violadas sexualmente. Dessa forma, crescem revoltadas e correm o risco de se tornar menores infratores. Precisamos resolver as causas para não ficar fingindo combater os efeitos. Creches e educação integral para todas as crianças que precisam, eis uma prioridade inadiável.
Outra medida necessária é a federalização do ensino médio, trazendo de volta a educação técnico-profissional para que os jovens aprendam um ofício e tenham chances no mercado de trabalho.
P – E sobre o rodízio de padrastos, cujo comentário lhe custou o cargo de diretor de Comunicação da Polícia Civil, o senhor insiste em criticá-lo?
R – Não nada contra os padrastos, mas contra o rodízio. Quem tem filhos precisa adotar cautelas antes de levar uma pessoa para dentro de casa. Cada adulto pode buscar a sua felicidade, mas sem colocar as crianças em risco. Se não tivermos coragem de enfrentar o debate, vamos continuar operando no efeito dos problemas e não das causas, buscando, sem achar, respostas para tanta violação sexual de crianças e tanta violência doméstica. O namoro e o noivado foram criados para as pessoas se conhecerem melhor e fazerem escolhas menos arriscadas.