Há quem enxergue defeitos no outro, sem perceber que projeta no semelhante aquilo que carrega em si. Exemplo é o parceiro ou a parceira que descarrega o cartão adicional todo mês e acusa o outro, em momento de raiva, de dilapidar o patrimônio do casal, por freqüentar restaurantes ou viajar para fora, mesmo que as despesas tenham sido realizadas pelos dois.
Uma pessoa ambiciosa sempre aponta o dedo para quem manifeste ambição por algo, mesmo sendo um desejo legítimo. “Ambição desmedida”, reclama, sem reconhecer que almeja a conquista do outro.
Até mesmo quem já ocupou postos almejados por alguém neste momento deixa escapar a insinuação de que o outro simplesmente não merece chegar ao objetivo desejado.
“O inferno são os outros”, já dizia Jean-Paul Sartre, como se estivesse a falar de situações atuais em que o que vale não é a verdade, mas a versão, e tudo está bem até que você não contrarie o outro, gerando insatisfações e separações contínuas entre casais.
Conheço algumas pessoas que são arrimo de sua família original (pai, mãe, avós, sobrinhos, irmãos etc.), mas criam o maior caso se o marido ou a mulher, por exemplo, ajudar algum parente da outra banda familiar.
Existem também os que confundem lealdade com traição, invertendo completamente a lógica das coisas. É o caso da mulher que rompe com o marido porque ele contou que outra o está cobiçando.
Enquanto as pessoas não abandonarem
certos sentimentos, como o de posse, superioridade, ressentimento, inveja e de ser donas da verdade, as brigas e os rompimentos continuarão para sempre, porquanto ninguém suporta ser espancado sem reagir.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do Distrito Federal, jornalista e escritor.