quarta-feira, 17/12/25
HomeMiguel LucenaA última flor do Lácio, inculta e bela

A última flor do Lácio, inculta e bela

Reprodução

 

Miguel Lucena

Bilac não escreveu apenas um verso: lavrou uma certidão de nascimento da língua portuguesa. Ao chamar o idioma de “última flor do Lácio”, ele nos remete ao Lácio, antiga região da Itália onde nasceu Roma e se consolidou o latim, língua que daria origem às línguas românicas. O português surge, assim, como herdeiro tardio desse tronco antigo, uma flor que brotou longe do jardim original.

Inculta, porque deixou para trás a rigidez clássica e se formou no uso cotidiano, no erro repetido até virar regra. Bela, porque mesmo imperfeita canta, mesmo ferida resiste. A língua portuguesa mistura latim com saudade, poeira com lirismo, palavrão com oração.

Não pede licença nem cabe em vasos acadêmicos. Cresce em becos, sertões e esquinas, florescendo na boca de quem nunca leu Bilac, mas sabe amar, xingar e sofrer com precisão poética. Inculta e bela — como o Brasil que a fala.

VEJA TAMBÉM

Comentar

Please enter your comment!
Please enter your name here

- Publicidade -

- Publicidade -spot_img

RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Este campo é necessário

VEJA TAMBÉM