Maria José Rocha Lima¹
Em 1996, publiquei A Trama da Ignorância & Outros Escritos – Análise dos discursos e práticas de autoridades brasileiras no Império e na República sobre o Professor. A obra resultou da monografia de conclusão da Especialização em Metodologia do Ensino Superior na Faculdade de Educação da Bahia – FEBA.
Na apresentação, o Professor Doutor Hermes Teixeira de Melo, da Universidade Federal da Bahia, escreveu:
> “A análise de Discursos e Práticas das Autoridades Brasileiras no Império e na República sobre o Professor, de autoria da Professora e Deputada Maria José Rocha, expõe a demagogia dos governantes brasileiros que, por meio de atos legislativos, concretizam suas ‘vontades políticas’ de preservar preconceitos e manter, ao longo da história do nosso país, a má qualidade da educação como instrumento de dominação do nosso povo.
Maria José é muito feliz ao revelar que os problemas da educação brasileira são seculares e profundamente conhecidos; suas soluções também são amplamente conhecidas. Entretanto, entre os discursos elaborados pelos políticos e suas ações no exercício do poder, identificam-se suas verdadeiras intenções.”
Em 1996, concluí a monografia registrando: diante do desprestígio social, do arrocho salarial e das péssimas condições de vida, que levam professores a procurar subempregos para garantir a sobrevivência da família, tornaram-se constantes os relatos de queda significativa nas inscrições para cursos de licenciatura e até para concursos públicos do magistério.
Dois séculos após Dom Pedro II anunciar a necessidade de um piso salarial para professores, somente em 2008 foi sancionada a Lei 11.738, que instituiu o Piso Salarial Profissional Nacional. Ainda assim, 60% dos municípios brasileiros não cumprem a lei, e muitos estados continuam discutindo sua aplicação nos níveis iniciais, acumulando precatórios devidos aos pobres “professores primários”.
Na minha tese de doutorado, ao estudar os partidos políticos e a implantação do piso do magistério baiano, constatei que, independentemente da ideologia — esquerda, centro ou direita — a resistência ao cumprimento pleno do piso apresentava apenas leve inflexão à esquerda.
Em 8 de maio de 2025, a Fundação Carlos Chagas divulgou estudo alertando para um possível apagão de professores, com déficit estimado de até 235 mil docentes até 2040.
Nos rankings internacionais, o Brasil continua em posições vergonhosas: no Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU (PNUD/2025), ocupa o 132º lugar entre 193 nações; no PISA, permanece entre os piores da América Latina; e, no relatório Educação para Todos, da UNESCO, estava apenas na 72ª posição em acesso e qualidade.
Os discursos seculares das autoridades brasileiras — repletos de adjetivações emotivas sobre a importância dos professores — ainda comovem multidões, mas já não conseguem esconder o desprezo histórico da elite dominante pela educação do povo.
Como profetizou Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade.” E, como advertiu Miguel Nicolelis, a ignorância virou moda.
Eu concluo: tudo isso faz parte da estratégica TRAMA DA IGNORÂNCIA.
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¹ Professora, mestre em Educação, doutora em Psicanálise. Fundadora da Casa da Educação e Deputada Estadual na Bahia (1991–1999).



