domingo, 23/11/25
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Entenda em 12 tópicos os avanços e as pendências da COP30

Cúpula do Clima de Belém terminou no último sábado (22) com um acordo considerado limitado em pontos centrais, mas que deixa bases políticas para a próxima fase da diplomacia climática.

André Corrêa do Lago, presidente da COP30, acompanha a sessão plenária de encerramento da cúpula enquanto o chefe do clima da ONU, Simon Stiell (à esquerda), conversa com outros representantes das Nações Unidas. — Foto: AP Photo/Andre Penner

 

A COP30 terminou neste sábado (22) em Belém com avanços pontuais e uma lista de pendências que devem voltar às mesas de negociações em 2026.

Um dos principais resultados foi a adoção de um conjunto comum de indicadores para a chamada Meta Global de Adaptação. É a primeira vez que as conferências do clima chegam a um acordo sobre como medir o preparo dos países diante de eventos extremos.

Para especialistas, o passo ajuda a dar mais clareza a uma agenda que sempre avançou de forma lenta e desigual.

Outros pontos, porém, ficaram sem resposta. O texto final não incluiu compromissos sobre combustíveis fósseis, tema que dividiu países até as últimas horas de negociação.

Também não houve acordo sobre como reduzir a distância entre o que o mundo promete e o que seria necessário para limitar o aquecimento a 1,5°C. O financiamento para adaptação, considerado decisivo para países em desenvolvimento, avançou menos do que o esperado.

🌡️ ENTENDA: Essa meta de 1,5°C compara o aquecimento atual com a temperatura antes da Revolução Industrial. Cientistas usam esse limite porque, acima dele, os riscos de secas, ondas de calor e avanço do mar aumentam bastante. Estudos recentes, porém, indicam que o planeta já está muito perto desse ponto.

 

Com isso, várias questões seguem abertas e devem ser retomadas na próxima conferência da ONU sobre clima, marcada para 2026, em Antália, na Turquia.

A seguir, em 12 tópicos, veja os principais avanços e as principais pendências deixadas pela cúpula de Belém.

⛔AS LACUNAS

1. Mapa do caminho de fora (por enquanto): O texto final não trouxe os roteiros defendidos pelo Brasil e pela Colômbia para organizar a transição para longe dos fósseis e zerar o desmatamento. Isso aconteceu após resistência de países produtores de petróleo. Mesmo assim, a presidência da COP avisou que vai seguir trabalhando nos documentos em 2025.

2. Meta Global de Adaptação (GGA) enfraquecida: A meta global de adaptação foi aprovada, mas com uma lista menor de indicadores: caiu de cerca de 100 para pouco mais de 60. Esses indicadores são formas simples de acompanhar se os países estão melhor preparados para a crise do clima (com alertas de emergência, obras contra enchentes, sistemas de prevenção). Sem dinheiro claro e com negociações pouco abertas, países do Sul Global dizem que a meta já nasceu fragilizada.

3. Financiamento climático ainda muito abaixo do necessário: Os países também só concordaram em “fazer esforços” para triplicar o financiamento de adaptação até 2035, mas sem dizer quem paga, quanto e de onde vem o dinheiro. Para América Latina e África, isso complica o planejamento de obras contra enchentes, secas e outros impactos já em andamento.

 

4. Mitigação sem avanços estruturais: O texto final não cita combustíveis fósseis e repete praticamente o mesmo nível de ambição da COP anterior, em Baku. Delegações que pressionavam por uma transição energética mais clara disseram que o debate ficou travado pelas divergências entre os países, impedindo passos mais concretos para reduzir emissões.

Poluição em fábrica na Alemanha. Mais de 600 promotores de energias fósseis, afiliados a alguns dos maiores poluidores de petróleo e gás, se inscreveram para as negociações climáticas da COP deste ano. — Foto: AP Photo/Michael Probst

Poluição em fábrica na Alemanha. Mais de 600 promotores de energias fósseis, afiliados a alguns dos maiores poluidores de petróleo e gás, se inscreveram para as negociações climáticas da COP deste ano. — Foto: AP Photo/Michael Probst

📌OS MARCOS POLÍTICOS:

5. Direitos indígenas reconhecidos como estratégia climática: O pacote final da COP traz, pela primeira vez, referências claras ao papel dos povos indígenas na proteção das florestas e na adaptação ao clima. Diferentes decisões citam esses direitos de forma explícita, um avanço inédito nas negociações da ONU.

6. Brasil promete levar adiante mapas do caminho: Mesmo fora do acordo final, a presidência disse que vai preparar, ao longo de 2025, dois documentos sobre combustíveis fósseis e desmatamento para apresentar antes da COP31. É uma tentativa de manter o tema vivo depois da resistência de países contrários.

7. Comércio internacional entra oficialmente na agenda: A COP30 abriu pela primeira vez uma discussão sobre como as regras de comércio entre países podem influenciar o clima. Muitos governos queriam esse debate há anos. O acordo também inicia uma análise sobre como o comércio mundial pode ajudar, e não atrapalhar, a adoção de tecnologias mais limpas.

8. Aprovação do Plano de Ação de Gênero de Belém: Um plano que orienta a participação de mulheres e meninas nas decisões sobre clima foi aprovado em Belém. O documento reforça passos para ampliar essa presença em todos os níveis das negociações. A votação avançou mesmo depois de objeções apresentadas pelo Vaticano na plenária final.

🌍OS GRANDES AVANÇOS:

9. Mecanismo de Belém para uma transição justa: A COP30 aprovou a criação de um mecanismo de transição justa, conhecido como BAM, sigla de Belém Action Mechanism. É uma das principais entregas da conferência. Na prática, o BAM organiza, pela primeira primeira vez, um caminho permanente para que países em desenvolvimento possam planejar a mudança para economias de baixo carbono sem deixar trabalhadores e comunidades vulneráveis para trás.

10. Meta Global de Adaptação finalmente adotada: Apesar de ter fechado um conjunto menor de indicadores, a COP30 conseguiu um avanço importante: pela primeira vez, os países terão uma base comum para acompanhar como estão se preparando para eventos extremos. São indicadores que ajudam a organizar esse trabalho e criar comparações mais claras. A conferência também abriu um processo de dois anos para detalhar como essas medidas vão funcionar na prática. É um começo que dá mais direção para a agenda de adaptação.

11. Compromisso de triplicar o financiamento para adaptação até 2035: Apesar de não trazer valores claros, o compromisso de triplicar o financiamento é visto por especialistas como um avanço, porque reconhece a urgência de investir mais em adaptação. Os detalhes ficam para 2026, antes da COP31.

12. Fundo florestal ganha novo fôlego na COP30: Durante a COP30, o TFFF registrou uma rodada de anúncios que elevou o peso político do fundo. A Alemanha confirmou 1 bilhão de euros e se juntou a Noruega, França, Brasil e Indonésia, levando o total comprometido para mais de 6 bilhões de dólares. Com a visibilidade da cúpula, o mecanismo saiu de Belém mais consolidado e com expectativa de ampliar a lista de doadores.

O que marcou a reta final da COP30

 

Para especialistas, o desfecho da COP30 deixou uma mensagem dupla. Por um lado, a conferência conseguiu aprovar um pacote de decisões que evitou um impasse maior num cenário de forte fragmentação geopolítica.

Por outro, pontos considerados centrais — como combustíveis fósseis e financiamento — avançaram menos do que se esperava.

“A COP30 apresentou resultados importantes que vão além dos textos oficiais de negociação, e isso deve ser levado em consideração. A ação climática não está — e não deveria estar — restrita a conversas formais”, avalia Mauricio Voivodic, Diretor Executivo do WWF-Brasil.

 

“Esta foi provavelmente a primeira COP em que combustíveis fósseis e florestas estiveram no centro do debate, o que também representa um importante passo adiante. No entanto, o Mutirão Global carece de ambição e de processos mais eficazes para acabar com a dependência de combustíveis fósseis e para deter e reverter o desmatamento. Esses chamados mapas do caminho são de importância crucial e devem permanecer nas negociações climáticas ao longo do próximo ano”, diz ele.

Já o coordenador de política internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo, faz uma leitura mais ampla sobre o contexto em que a conferência ocorreu.

Segundo ele, Belém “entregou o que era possível num mundo radicalmente transformado para pior” e evitou um cenário de implosão do Acordo de Paris, que considera hoje a principal barreira para um aquecimento de 3°C.

Angelo afirma que o Brasil esteve muito perto de comprometer o papel histórico que desempenha no regime climático internacional.

Para ele, os resultados limitados da COP30 mostram sinais de desgaste no modelo de decisões por consenso e indicam a necessidade de discutir mudanças no processo da UNFCCC, o braço climático da ONU.

“O Brasil, que foi o berço da Convenção do Clima, por pouco não se torna seu túmulo”, diz.

Um grupo de cientistas que atuou de forma ativa durante a COP30, tentando chamar a atenção de negociadores para a necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, também divulgou uma avaliação sobre o resultado da conferência.

Eles reconheceram que o Brasil fez um esforço importante na reta final, mas afirmaram que houve “forças contrárias que bloquearam o acordo”.

“Elas [forças contrárias] parecem ignorar que, ao contrário dos pavilhões da COP, não podemos evacuar o planeta Terra quando desastres acontecem”, disseram. O grupo reúne pesquisadores como Carlos Nobre, Thelma Krug, Paulo Artaxo, Marina Hirota, Johan Rockström, Chris Field, Fatima Denton, Piers Forster e Ricarda Winkelmann.

 

Os especialistas também reforçaram que não há como manter a temperatura global dentro dos limites previstos sem encerrar a dependência dos combustíveis fósseis no menor prazo possível. Segundo eles, caso isso não ocorra, o mundo pode ser empurrado para uma mudança climática perigosa em no máximo dez anos.

“Uma transição energética alinhada à ciência exige liderança, coragem e coerência. Devido ao fracasso, até agora, em implementar o Acordo de Paris, o ritmo necessário de mudança é extremamente elevado”, defenderam.

 

 

 

 

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