Ex-presidente foi preso preventivamente neste sábado (22), por decisão do STF, e teve prisão mantida após audiência de custódia. Especialista diz que confusão e surtos são sintomas incomuns, mas podem acontecer.
O ex-presidente Jair Bolsonaro alegou à Justiça que a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica ocorreu durante um “surto” causado por medicamentos. Ele citou dois: pregabalina e sertralina. E também negou qualquer tentativa de fuga.
A juíza responsável pelo atendimento decidiu manter a prisão preventiva do ex-presidente após a audiência de custódia.
Segundo informações das bulas, os medicamentos citados por Bolsonaro são usados em tratamentos psiquiátricos, especialmente em casos de ansiedade e depressão. Ambos podem causar reações adversas que incluem alterações de humor e alucinações, apesar de serem sintomas mais raros.
A psiquiatra Danielle Admoni, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que a sertralina e a pregabalina não costumam provocar alucinações. Segundo ela, os efeitos adversos mais frequentes dessa combinação estão relacionados à sedação e ao ritmo de metabolização de cada paciente, especialmente em pessoas idosas.
“Não causam alucinação, o que podem causar mais é sonolência. Na verdade, a sertralina é um remédio bastante tranquilo, com pouco efeito colateral. Pode dar algumas alterações, entre elas sonolência. E a pregabalina também pode levar a sonolência, tanto que a gente costuma começar ela à noite.”
A médica diz que fatores como idade e diferenças individuais no metabolismo podem alterar a forma como cada organismo reage à medicação. Por isso, mesmo que efeitos incomuns não sejam esperados, não é possível descartá-los completamente sem avaliar o histórico de cada paciente.
“Quando a gente pensa em alguém mais velho, tem que pensar em dose também. A gente pode ter respostas individuais. Então, nunca dá para falar ‘ah, isso não é de jeito nenhum’, sem conhecer o paciente.”
Um boletim médico divulgado neste deste domingo (23), assinado pelos médicos Cláudio Birolini, cirurgião-geral, e Leandro Echenique, cardiologista, diz que Bolsonaro relatou ter apresentado, na noite de sexta (21), um episódio de confusão mental e alucinações.
Os médicos acompanham Bolsonaro e afirmam que o quadro de confusão mental pode ter sido provocado pela pregabalina, medicamento prescrito por outro profissional.
Segundo o documento, a pregabalina tem interação relevante com remédios que o ex-presidente já usa regularmente para crises de soluços — clorpromazina e gabapentina.
Os médicos afirmam que a associação pode causar efeitos colaterais como confusão mental, desorientação, sedação, alterações de equilíbrio, alucinações e prejuízo cognitivo.
Segundo a equipe que acompanha a saúde do ex-presidente, o uso da pregabalina foi suspenso imediatamente.
A pregabalina pode causar uma série de reações adversas, segundo a bula do medicamento. Os efeitos vão desde sintomas leves e comuns, como dor de cabeça e náusea, até eventos raros e potencialmente graves, incluindo reações alérgicas severas e alterações cardíacas.
As reações mais frequentes são dores de cabeça, que acontecem em cerca de 10% dos usuários. Outros menos comuns formam uma lista extensa, que inclui alterações físicas e emocionais. Entre elas:
- Nasofaringite, aumento do apetite, irritabilidade, euforia, confusão e desorientação
- Insônia, diminuição da libido, mudanças de memória e atenção.
- Tremores, dificuldade de coordenação motora, letargia e sensação de embriaguez.
- Visão turva ou dupla, vertigem.
- Náusea, diarreia, vômitos, constipação e gases.
- Cãibras, dores musculares e articulares, dor lombar e nos membros.
- Edema (inchaço), marcha anormal e quedas.
- Cansaço e aumento de peso.
Esses efeitos tendem a ser mais leves e, em muitos casos, diminuem com o tempo de uso, mas podem impactar a rotina de parte dos pacientes.
A medicação também pode causar reações incomuns (entre 0,1% e 1% dos pacientes) como:
- Incluem alterações no humor, no sistema nervoso e no funcionamento de órgãos:
- Neutropenia (queda de células de defesa), anorexia e hipoglicemia.
- Alucinações, inquietação, mudanças bruscas de humor e despersonalização.
- Aumento ou perda da libido, anorgasmia e disfunção sexual.
- Desmaios, mioclonia, discinesia e outros distúrbios motores.
- Alterações visuais, como redução da acuidade, dor ocular e visão periférica prejudicada.
- Taquicardia, bradicardia, hipertensão ou pressão baixa.
- Dificuldade para respirar, sangramento nasal, refluxo e hipersecreção salivar.
- Erupções na pele, urticária e sudorese.
- Incontinência urinária, disúria, retardo na ejaculação e disfunção erétil.
- Febre, calafrios, fraqueza e alterações laboratoriais, incluindo enzimas hepáticas e glicose.
- Hipersensibilidade, agressividade e perda de consciência também aparecem entre os efeitos relatados.
O que é sertralina, e para que serve?
A sertralina é um antidepressivo que aumenta a disponibilidade de serotonina no cérebro, substância ligada ao humor, ao bem-estar e ao controle da ansiedade.
De acordo com a bula da medicação, a sertralina é indicada para adultos no tratamento de:
- Depressão, inclusive quando há sintomas de ansiedade;
- Transtorno do pânico;
- Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);
- Fobia social;
- Síndrome da tensão pré-menstrual e transtorno disfórico pré-menstrual;
- O medicamento também é aprovado para tratar transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) em adultos e em crianças a partir de 6 anos.
A sertralina aumenta a ação da serotonina, uma substância que regula o humor, o sono, o apetite e outras funções, como a digestão e a cognição. Ela ajuda a aliviar sintomas como tristeza persistente, preocupação excessiva, ataques de pânico, compulsões e pensamentos obsessivos.
A medicação pode causar uma série de reações adversas, segundo a bula atualizada do medicamento. Os efeitos variam de sintomas leves e comuns até eventos raros e potencialmente graves que exigem atenção médica imediata.
As reações mais comuns, que ocorrem em mais de 10% dos pacientes, são:
- Enjoo, diarreia e indigestão;
- Tontura e dor de cabeça;
- Tremores;
- Falta de apetite;
- Insônia ou sonolência;
- Fadiga;
- Sudorese excessiva;
- Boca seca;
- Disfunção sexual, como atraso na ejaculação e redução da libido.
Outras reações comuns, mas que costumam aparecer entre 1% e 10% dos pacientes são:
- Constipação, náuseas com vômitos e dor abdominal;
- Dores musculares, perda ou ganho de peso e aumento do apetite;
- Dor no peito, palpitações e febre;
- Zumbido, formigamentos e agitação;
- Agressividade e comportamento hiperativo;
- Infecções urinárias, incontinência e impotência;
- Rinite, sinusite e bocejo frequente.
As reações incomuns incluem efeitos que podem indicar alterações mais significativas no organismo:
- Fraqueza muscular;
- Hipomania ou mania;
- Dores nas articulações;
- Sangramentos anormais, como manchas roxas, sangue nasal ou fezes com sangue;
- Aumento das enzimas do fígado, indicando possível comprometimento hepático.

