
Por Chico Araújo
A língua portuguesa, falada por mais de 260 milhões de pessoas em todo o mundo, é rica em nuances e flexões verbais, e os verbos, como o coração da frase, expressam ações, estados e ocorrências, tornando sua conjugação adequada fundamental para transmitir ideias com precisão e elegância. No entanto, como bem observado em erros comuns na televisão, jornais impressos, conversas cotidianas e até nas letras de músicas, o mau uso dos verbos pode gerar confusões hilárias ou graves – ou, como diria o povo, uma aberração que racha a cuca e faz questionar o fim do mundo, e não do reto, como se ouve por aí, e que, quando ouço “cunzinha” em vez de “cozinha” ou a torpe “para comprar o Modess da mulher”, dá uma comichão nos tímpanos que só uma boa conjugação alivia. Para entender melhor essa importância, vale a pena começar pelas bases: o que são os verbos e como eles se organizam, sempre em harmonia com outros elementos da frase, como sujeitos, predicados e advérbios, que dão vida e direção ao discurso.
Os verbos são palavras variáveis que indicam o que o sujeito faz, sofre ou sente, e para contextualizá-los, recordemos que toda frase completa possui um sujeito – o elemento que realiza ou sofre a ação, podendo ser simples, como “o aluno” em “O aluno estuda”, ou composto, como “Maria e João” em “Maria e João correm” – e um predicado, que é o que se declara sobre o sujeito, geralmente centrado no verbo, como “estuda diligentemente” em “O aluno estuda diligentemente a lição”, onde o advérbio “diligentemente” modifica o verbo, adicionando circunstância de modo, tempo ou intensidade. Os verbos classificam-se por regularidade, em que os regulares seguem padrões previsíveis como amar, aprender ou partir, enquanto os irregulares fogem à norma, a exemplo de ser, com eu sou em vez de eu sero, ou ir, com eu vou em vez de eu iro; por transitividade, dividindo-se em diretos, como eu leio o livro (sujeito “eu”, predicado “leio o livro”), indiretos, como eu gosto de ler (com preposição), ou intransitivos, como eu corro rapidamente (advérbio “rapidamente” qualificando a ação); e por tempo e modo, abrangendo o presente, eu falo agora (indicando ação atual), o pretérito perfeito, eu falei ontem (ação concluída no passado), o futuro, eu falarei amanhã, além dos modos indicativo para fatos reais, subjuntivo para hipóteses ou desejos, como que eu fale, e imperativo para ordens, como fala. Essas classificações não são meras regras acadêmicas, mas evitam equívocos, imagine uma notícia de jornal dizendo o presidente decide aprovar o orçamento em vez de decidiu, deixando o leitor perdido no tempo da ação, onde o sujeito “o presidente” e o predicado “decide aprovar” perdem clareza sem o pretérito. Assim, dominá-las pavimenta o caminho para a conjugação propriamente dita, que representa um dos maiores desafios da língua, especialmente ao lidar com advérbios que enriquecem o predicado.
A conjugação verbal em português é um dos aspectos mais desafiadores, especialmente para falantes nativos que aprendem na marra sem gramática formal, e cada verbo pertence a uma das três conjugações principais, identificadas pela terminação no infinitivo: a primeira em -ar, como eu amo, tu amas, ele ama; a segunda em -er, como eu como, tu comes, ele come; e a terceira em -ir, como eu parti, tu partes, ele parte, onde erros crassos surgem, confundindo eu faço de fazer com eu fazo em uma entrevista na TV, ou o uso errado do pretérito, transformando eu vi o filme ontem em eu via o filme ontem, mudando uma ação concluída em algo contínuo, e nas músicas, como na famigerada para comprar o Modess, uma paródia que bagunça o imperativo com o infinitivo, o ouvinte ri, mas o erro se perpetua. Essa flexibilidade temporal e modal se aprofunda ainda mais nos tempos verbais, que permitem navegar com sutileza pelo passado, presente e futuro, sempre ancorados em sujeitos claros e predicados robustos, modificados por advérbios para maior precisão.
Os verbos portugueses oferecem uma gama impressionante de tempos simples, como o presente falo ou o imperfeito falava para ações habituais no passado, e compostos, como o futuro do pretérito teria falado para hipóteses sobre o passado, e um erro comum em conversas diárias é o presente para o futuro, eu vou no supermercado amanhã em vez de eu vou ao supermercado amanhã, com crase e preposição, ou o subjuntivo mal empregado, se eu soubesse virando se eu saber, uma abominação que ecoa em novelas, e consultar o Aurélio ajuda, pois ele não só conjuga, mas explica contextos, evitando que é cada aberração vire norma – por exemplo, no presente, “Eu corro diariamente” (sujeito “eu”, predicado “corro diariamente”, advérbio “diariamente” indicando frequência), no pretérito perfeito “Eu corri ontem” (ação passada concluída) ou no pretérito imperfeito “Eu corria todos os dias” (hábito no passado). Complementando esses tempos, os modos verbais adicionam camadas de intenção e nuance, guiando como expressamos a realidade ou o desejo, com advérbios como “talvez” no subjuntivo para suavizar hipóteses.Nos modos verbais, o indicativo serve para fatos reais, eu estudo português, o subjuntivo para dúvidas ou vontades, espero que você estude, e o imperativo para comandos, estude agora, e nas mídias vemos abusos, como um repórter dizendo espero que o público goste, correto, mas escorregando para espero que o público gostar, rachando a cuca de gramáticos, onde o predicado falho ignora o sujeito implícito e o advérbio de dúvida. Esses tropeços nos levam a refletir sobre o impacto real dos erros verbais, que vão além do riso passageiro e tocam em questões práticas de comunicação, afetando a coesão entre sujeito e predicado.
Erros verbais não são inofensivos, em um contrato pagarão versus pagariam pode custar fortunas, em uma letra de samba adicionam charme poético, mas em jornalismo minam a credibilidade, e a boa notícia é que a prática corrige: leia e ouça fontes confiáveis, como jornais como a Folha de S.Paulo ou podcasts da Rádio Câmara que exemplificam conjugações impecáveis, use ferramentas como apps conjugadores do Ciberdúvidas ou o clássico Dicionário Aurélio online, pratique diariamente reescrevendo frases erradas de TV, transformando é um cunzinha para cá e para lá em é uma coisinha de um lado para o outro, e observe o contexto, pois verbos mudam com o sujeito, eu falo, nós falamos, e negações, não falo, nunca falei, incorporando advérbios como “nunca” para intensificar o predicado. Ao adotar essas estratégias, percebemos que os verbos não são apenas regras, mas o verdadeiro motor da língua, capaz de impulsionar conexões profundas, entrelaçados com sujeitos, predicados e advérbios que pintam o quadro completo.Em resumo, os verbos são o motor da língua portuguesa, flexíveis, expressivos e, quando bem usados, capazes de unir nações, em vez de lamentar o fim do reto da gramática, vamos resgatá-la com observação atenta e um pouquinho de estudo, afinal, como diria o Aurélio, a beleza da língua está na precisão, não na aberração, que tal começar conjugando um verbo hoje? Eu conjuro: escreva corretamente e conquiste o mundo.
(*) Chico Araújo é advogado, jornalista e teólogo, autor de “Quando Convivi com os Ratos” (Editora Social, 2024), “Sombras do Poder: As Vísceras da Corrupção no Acre na Operação Ptolomeu” (Editora Social, 2025), Memórias de Um Repórter – Entre o Mimeógrafo e o Centro do Poder (Editora Social, 2025)

