domingo, 09/11/25
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“O mundo precisa entender o que é a Amazônia”, afirma executiva da Fundação Rockfeller

Vice-presidente para América Latina e Caribe da entidade de atuação mundial acredita que o ecossistema filantrópico precisa trabalhar em colaboração

Lyana Latorre, líder da Fundação Rockefeller na América Latina – (crédito: Fundação Rockefeller/Divulgação)

 

Em meio às discussões levantadas momentos antes do início oficial da COP30, o desafio de colocar em prática as ações de combate à mudança climática se impõe. Na avaliação da vice-presidente para América Latina e Caribe da Fundação Rockfeller, Lyana Latorre, essa execução depende mais do que de um trabalho coordenado: exige colaboração. Hoje, a fundação desenvolve três linhas de trabalho: energia, sistemas de alimentação e saúde. O uso de energias limpas em comunidades em situação de vulnerabilidade, o incentivo à agricultura regenerativa e o impacto das mudanças climáticas na saúde estão, portanto, entre os focos da atuação em cada um desses programas. “O que queremos é continuar todo esse trabalho que já se fazia e que se tem feito por muitos anos no Brasil e na Colômbia, expandindo-o a outros países, porque vemos uma oportunidade muito grande de trabalhar colaborativamente e com as comunidades locais”, destaca. Confira os principais trechos da entrevista.

Uma questão que desafia todas as nações é como financiar a agenda climática. Como vê esse cenário?

É um grande desafio, mas é um bom desafio. Desde que se iniciou a organização da COP, sempre se tem repetido que se quer que a COP seja uma COP de implementação. Acho que os problemas estão claros, e as abordagens a esses problemas estão muito claras. O grande desafio está na implementação, e há dois fatores: um, o financiamento, claro, mas também a colaboração. Eu acho que o fato de a COP estar ocorrendo no Brasil é uma grande oportunidade para os resultados que se darão depois desta conferência. Para nós, como região, é poder ter mais tangível o que fazer, o que implementar, por onde começar. Cobrir a agenda toda é impossível, mas, sim, temos uma oportunidade muito grande, porque vamos ter uma COP no Brasil, que está muito alinhada ao que a conferência busca. Há uma oportunidade muito grande de colaborar melhor. O ecossistema filantrópico tem focado em como passamos de coordenar mais a colaborar mais e melhor. É muito diferente coordenar de colaborar.

Qual o papel da filantropia nesse sentido?

Fundamental. Na semana passada, divulgamos um estudo conduzido pela The Research Foundation e que nós apoiamos. Foram ouvidos 70 líderes em vários países da América Latina e Caribe para responder: “O que a filantropia deve fazer hoje? Como a filantropia deve trabalhar melhor com o setor privado?” O setor privado é um stakeholder muito importante nesta região para poder avançar em projetos e em iniciativas de impacto social. Então, a filantropia tem um papel muito importante neste momento crítico. Eu acho que a região, como outras regiões, tem muitas necessidades, temos muitas pessoas na linha de pobreza, sem acesso à comida e à saúde. Então, sempre estivemos em modo emergência. Mas eu acho que há um convite, além da urgência, a pensar em como solucionar um problema de fundo. E isso é algo que está no DNA da Rockefeller. Sempre dizemos não como solucionar uma emergência, mas, sim, como solucionar um problema que gere uma mudança sistêmica. E esse é o papel que devemos começar a buscar como filantropias: projetos de longo prazo.

Como a filantropia pode ajudar a reconstruir a confiança da sociedade civil nas instituições públicas aqui na América Latina?

Um dos números que o relatório leva em conta é o da confiança que as pessoas têm nas organizações de base ou nas fundações, e esse número está em 27%. Então, é um número que precisa ser melhorado, essa confiança tem de crescer, porque se torna um catalisador de outras coisas, de mais parcerias, de mais fundos, de melhores fundos. Paralelo a isso, há um convite que o relatório faz, que é: como fazemos para medir melhor? Hoje em dia há muitas ferramentas tecnológicas que nos ajudam a consolidar essa informação, mas creio que componentes como medir melhor, colaborar mais, fazer coalizões, fazem com que esse número de 27% comece a subir. As pessoas têm que acreditar mais no trabalho que fazem as organizações de base ou as organizações no setor filantrópico. E creio que aí há uma grande oportunidade para o setor filantrópico, de trabalhar conjuntamente. Sempre me refiro ao Brasil, porque, como líder da equipe da região, eu olho e digo: ‘De quem podemos aprender?’ Ou seja, é preciso ter alguns benchmarks locais, regionais, globais. E eu creio que o Brasil, dentro da região, tem um papel de destaque, para nos ensinar em temas de que o país de vocês é muito mais avançado, e isso também gera confiança. Temos que nos robustecer como ecossistema, e trabalhar todos: os globais, os regionais, as organizações locais.

Como acredita que os países da Amazônia vão trabalhar em colaboração depois da COP30? É otimista?

Sou sempre otimista. Há nove países nesse bioma amazônico, nesse corredor amazônico. São muitas pessoas, e isso é uma oportunidade para o mundo. Para muitas pessoas, a Amazônia é ou só o Brasil, ou só o Peru, ou Peru, Colômbia e Brasil, mas há mais países, e muitas dessas cidades ou comunidades que estão dentro do bioma amazônico são remotas e necessitam de apoio. Então, eu creio que este, sim, é um alerta — sobretudo para o mundo, não para quem está na região — de entender realmente o que é a Amazônia. E eu sou muito otimista, creio que o momento está propício para que haja mais colaborações. Quando se pensa na Amazônia, é tudo, não só a floresta: são as cidades que estão na Amazônia, são as comunidades remotas que estão na Amazônia. Essa conferência abre um diálogo mais profundo sobre o que é a Amazônia, quem a compõe, e com isso vem também um compromisso de fazer mais coisas.

 

 

 

 

 

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