quarta-feira, 17/09/25
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A morte de um delegado e o silêncio conveniente

Reprodução

 

Miguel Lucena

Delegado aposentado da PCDF, advogado e jornalista

A execução do ex-delegado-geral da Polícia Civil de São Paulo, Ruy Ferraz Fontes, em Praia Grande, não gerou a comoção que se esperava diante de um crime tão brutal. Alvo declarado do crime organizado, Fontes foi surpreendido em uma emboscada cinematográfica, mas o episódio, em vez de ecoar indignação nacional, foi tratado quase como mais uma estatística da violência.

Por que a morte de um delegado causa tão pouca mobilização? Será que a sociedade naturalizou o risco da profissão policial, como se “fazer parte do jogo” justificasse o assassinato? Ou será que o medo silencioso diante das facções criminosas, que já se infiltraram em vários setores do Estado, inibe manifestações mais contundentes?

A frieza com que parte da classe política reagiu também impressiona. Nem mesmo a chamada bancada da bala, sempre tão ruidosa em redes sociais e tribunas, pareceu disposta a transformar o caso em bandeira. Conveniência? Desinteresse? Talvez. Afinal, assumir o enfrentamento real ao crime organizado exige mais do que discursos inflamados: cobra coragem, estratégia e compromisso.

Não se trata apenas de lamentar a morte de um delegado. Trata-se de reconhecer que o crime organizado não recua diante de fardas, cargos ou instituições. Quando um ex-chefe da Polícia Civil é executado em via pública, a mensagem é clara: ninguém está imune. O silêncio da sociedade, dos políticos e até de setores da própria segurança pública revela um risco ainda maior — o de aceitarmos, pouco a pouco, que o Estado perdeu terreno.

A omissão, nesse caso, é também cumplicidade.

 

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