quinta-feira, 21/08/25
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Bolindo com a mulher dos outros

 

Imagem ilustrativa

 

Miguel Lucena

Aceitei o encontro mais por insistência do sujeito do que por vontade própria. Conheço o cabra: vive como captador de causas para escritórios de advocacia, desses que farejam desgraça alheia para transformar em processo. Achei prudente marcar na praça de alimentação de um shopping, lugar de gente demais para qualquer maldade dar certo.

Mal sentamos, ele foi logo abrindo o jogo, sem rodeio:
— Tem um cabra lá em Águas Lindas assediando minha mulher e a de um amigo meu no trabalho. Disse que só vai parar quando conseguir o que quer.

Olhei bem pra ele, tentando entender se era conversa de botequim ou drama real.
— E você pretende denunciar à polícia? — arrisquei.

A resposta veio seca, com aquele ar de quem já calculou o preço da violência.
— Não. Eu queria ver se o senhor podia dar uma surra naquele safado.

Ri por dentro. O sujeito e o tal amigo, os mais interessados na causa, não tinham coragem de resolver a bronca — e achavam que eu, logo eu, deveria assumir a função de justiceiro. Respirei fundo, segurei a ironia e devolvi com uma receita mais barata e sem processo penal no rastro:
— Vocês dois, que estão com a raiva entalada, não dão. Imagine eu! Façam diferente: vão ao trabalho dele, cheguem de mansinho, na ponta dos pés, e gritem bem no ouvido do assediador: “Safado, querendo pegar a mulher dos outros!”.

Talvez não resolvesse o problema, mas garanto que o susto seria maior que qualquer surra. E, no mínimo, renderia um bom motivo para o cabra pensar duas vezes antes de continuar bolindo com a mulher alheia.

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