domingo, 22/06/25
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Os 75 anos do grande poeta Wilson Aragão

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Miguel Lucena

Wilson Aragão chega aos 75 anos como quem atravessa a ferrovia do tempo com um bodoque na cintura, uma rolinha no pensamento e uma canção na ponta dos dedos.

O menino sarará de Piritiba, que caçava sonhos com Zé de badoque pelos matos da infância, nunca deixou de correr. Correu atrás da poesia, do canto e da justiça — porque, mesmo quando grileiros tomaram terras para plantar capim guiné e abanar rabos de gado, Aragão escolheu plantar esperança. No seu sítio, plantou também canções. Canções que crescem como maçarandubas, de raiz funda e copa larga, para sombra e alimento dos que ainda sabem ouvir o coração da terra.

De sua verve nasceram pérolas como Capim Guiné — que Raul Seixas imortalizou — e a emocionante Canção do Mês de Abril, aquela que fez Vital Farias marejar os olhos, encantado com o lirismo que não se ensina: ou se nasce com ele, ou se passa a vida tentando entender o que é.

Aragão também ousou propor um novo tratado para as guerras do mundo: nada de bomba, nem astromba. Guerra de facão, no braço e no cansaço, para morrer “menas” gente e salvar mais poesia. Porque ele, homem de luz brejeira, sabe que o sertão é dor, mas é também reza, é faca afiada e abraço de mãe.

No breu das noites nordestinas, nas estradas de ferro, nos quintais inventados da vida, Wilson canta os amores, os desamores, a fé e a travessia. Seus versos não são apenas sons: são moradas, são roçados, são redes de esperanças onde o povo de chão batido ainda pode sonhar.

Meu amigo-irmão, a vida é curta para conter tudo o que você é e o que você nos dá.

Brindemos aos seus 75 anos com facões de flor e bodoques de estrela. E que a estrada siga longa, cheia de abril e de luz.

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