
Miguel Lucena
Seu Joaquim abriu o pacote de café e estranhou o cheiro. “Tá diferente, mas vamo lá”. Coou o líquido preto, forte, tomou um gole e esperou a energia bater. Mas, em vez de sair correndo para pegar o ônibus, ficou ali, contemplando o teto.
A esposa estranhou. “Joaquim, o aluguel vence hoje!”
Ele sorriu sereno. “O universo provê”.
O chefe ligou. “Joaquim, cadê você?”
“Tempo é uma ilusão, seu Cláudio.”
No banco, o gerente explicou que a conta estava no vermelho. Joaquim apenas respirou fundo. “Dinheiro é uma construção social.”
A essa altura, já suspeitava: o café estava suspeito. Ligou o rádio e ouviu a notícia. Café com raspas de mulungu! Em vez de acelerar, acalmava.
Suspirou. “Finalmente inventaram um café que entende o brasileiro.”