sábado, 22/02/25
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Chifre e rim: cada um no seu lugar

Reprodução

 

Por Miguel Lucena

Advogado e jornalista

 

Há coisas na vida que vêm sem aviso, como um pneu furado ou um par de chifres. Já outras são fruto de escolha, como doar um rim. No caso do doutor Batista, o problema foi misturar as duas coisas — e aí o caldo entornou.

Imagine a cena: o homem, com o coração nobre (e os rins em dia), decide salvar a esposa. Não hesita, não pensa duas vezes: “Toma aqui meu rim, querida. Que nosso amor floresça!”. O que ele não contava era que, anos depois, a esposa trocaria o casamento por sessões de fisioterapia prolongadas. E, ao invés de chorar em posição fetal, Batista resolveu ser criativo: pediu o rim de volta ou, na falta do órgão, um cheque polpudo.

Agora, sejamos francos: confundir coração partido com falência renal é um erro clássico. Afinal, rim é rim, chifre é chifre — e cada um ocupa sua respectiva anatomia. Até porque, se cada pessoa traída resolvesse pedir de volta os presentes doados ao longo do relacionamento, o mercado de flores, joias e eletrônicos entraria em colapso.

E o juiz, que provavelmente já viu de tudo, manteve a compostura e explicou o óbvio: rim não é item de devolução. Não dá pra bater na porta da ex dizendo: “Voltei só pra buscar meu órgão, tá na garantia ainda?”. Além disso, a logística seria complicada — imagine marcar uma cirurgia com o mesmo entusiasmo de quem agenda a retirada de um sofá usado.

Moral da história? Generosidade não vem com cláusula de reembolso. Se for doar um rim, faça-o de coração (ou de rim, no caso). E se for amor, que seja inteiro — porque pedir órgão de volta depois do divórcio é, no mínimo, dor de cotovelo… ou de rim, dependendo da perspectiva.

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