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Por Miguel Lucena
A música brasileira perdeu recentemente um de seus grandes trovadores: Vital Farias. O poeta e cantador paraibano, que marcou gerações com sua obra refinada e profundamente nordestina, deixou um legado imortal. Seu talento, no entanto, não se foi por completo—vive na obra que nos deixou e também na voz e nas mãos de seu filho, João Farias, que emocionou a todos ao cantar Veja Margarida no velório do pai, num momento de despedida que transcendeu a dor para se tornar uma celebração da arte e da continuidade.
Diante dessa simbólica passagem de bastão, surge uma proposta que faz todo sentido para a música popular nordestina: que João Farias ocupe o espaço de seu pai no lendário Projeto Cantoria, que estava prestes a ser retomado por seus produtores. A ideia não é apenas um tributo, mas uma afirmação da continuidade desse movimento histórico, ao lado de Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai—três mestres que, junto a Vital Farias, formaram um dos mais belos quartetos da música brasileira.
Cantoria: Um legado vivo
O Projeto Cantoria, iniciado na década de 1980, tornou-se um marco na música brasileira. Os quatro cantadores apresentavam um espetáculo essencialmente acústico, baseado em violões virtuosos, poesia e melodias que evocam as tradições nordestinas mais profundas. Vital Farias sempre foi uma peça fundamental desse encontro, com sua voz inconfundível e composições que misturam lirismo e crítica social.
Com a iminente retomada do projeto, a ausência de Vital seria sentida como uma lacuna difícil de preencher. No entanto, há algo quase natural na ideia de que João Farias assuma esse posto, não como uma simples substituição, mas como a continuidade de uma chama que não pode se apagar. Sua presença daria um novo frescor ao projeto, sem perder a essência que encantou o público há mais de quatro décadas.
A emocionante cena de despedida
A imagem de João Farias cantando e tocando no velório de seu pai ressoou em todos que acompanharam esse momento. Foi um daqueles instantes que nos lembram do poder da música e de como ela atravessa gerações. João demonstrou não apenas talento, mas também uma profunda conexão com a obra do pai, algo que o credencia de maneira única para ocupar esse espaço na Cantoria.
Ele já carrega consigo o DNA poético e musical da família e, mais do que isso, tem voz própria. Sua participação ao lado de Elomar, Geraldo e Xangai traria uma renovação natural ao quarteto, mantendo viva a tradição, mas com um olhar para o futuro.
A força da tradição e da renovação
Em muitas tradições musicais ao redor do mundo, o aprendizado passa de geração para geração. No flamenco espanhol, no blues norte-americano, na música cigana—e, claro, na música nordestina—o conhecimento é compartilhado de pai para filho, de mestre para aprendiz. João Farias, tendo crescido imerso nessa cultura e nesse universo poético, representa essa continuidade de forma legítima e orgânica.
Com essa renovação, o Projeto Cantoria poderia ganhar um novo fôlego, ampliando seu alcance e tocando também novas gerações que talvez ainda não conheçam a grandiosidade desse movimento. João não substituiria Vital—pois ninguém pode substituir um artista como ele—mas daria sequência a um legado, com seu próprio talento e personalidade.
Uma homenagem que é também um novo começo
Se há algo que a música nordestina nos ensina é que a tradição nunca morre—ela se transforma, renasce e se perpetua naqueles que a carregam consigo. A presença de João Farias ao lado de Elomar, Geraldo Azevedo e Xangai seria uma homenagem emocionante a Vital Farias e também uma maneira de mostrar que a Cantoria segue viva, pulsante e atemporal.
O público certamente receberia essa notícia com entusiasmo. O encontro de João com esses mestres não seria apenas um tributo, mas um gesto de renovação e resistência cultural, garantindo que a poesia e a musicalidade desse movimento continuem ecoando, assim como as vozes e os acordes que moldaram a música popular nordestina.