Início da trégua foi atrasado em quase três horas após terroristas demorarem para divulgar lista de reféns que serão libertadas. Primeira fase do acordo deve durar seis semanas.
Por Redação g1 — São Paulo
Reprodução/g1*
Após o acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas entrar em vigor neste domingo (19), as primeiras reféns foram libertas pelo Hamas e entregues à Cruz Vermelha. A informação foi confirmada pelo exército israelense.
Segundo a autoridade, as três mulheres estão bem de saúde, mas ainda devem ficar no Hospital Infantil Safra, no Centro Médico Sheba, nos próximos dias. Elas serão examinadas por uma equipe médica especial e receberão roupas novas, artigos de higiene, cuidados de beleza e refeições especialmente preparadas.
Depois de terem sido entregues para a Cruz Vermelha, as reféns libertadas foram encaminhadas para o ponto de recepção inicial no sul de Israel, onde se reuniram com suas mães. Os demais membros da família deverão encontrar com as três mulheres no hospital. Veja o momento em que as reféns saem do carro da Cruz Vermelha.
As três mulheres libertadas são:
- Romi Gonen, 24 anos: ela foi sequestrada em uma emboscada enquanto tentava deixar o festival Supernova.
- Emily Damari, 28 anos: a jovem possui nacionalidade britânica-israelense e foi sequestrada no Kibutz Kfar Aza, no sul de Israel.
- Doron Steinbrecher, 31 anos: enfermeira veterinária que também morava em Kfar Aza e foi rendida dentro do próprio apartamento.
Romi Gonen, Emily Damari e Doron Steinbrecher serão as primeiras reféns a serem libertadas — Foto: Divulgação
Em pronunciamento após o reencontro com sua filha, Mandy Damari — mãe da britânica-israelense Emily Damari — se emocionou ao agradecer a todos os que “nunca pararam de lutar” para encontrar a jovem. Esse foi o primeiro reencontro das duas em 471 dias.
“Quero agradecer a todos que nunca pararam de lutar por Emily durante essa provação horrenda e que nunca pararam de dizer seu nome. Em Israel, na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e em todo o mundo. Obrigada por trazerem Emily para casa”, escreveu.
“Enquanto o pesadelo de Emily em Gaza acabou, para muitas outras famílias a espera impossível continua. Cada último refém deve ser liberto, e ajuda humanitária deve ser fornecida aos reféns que ainda estão esperando para voltar para casa. Pedimos que a mídia respeite a privacidade de Emily e da nossa família durante esse período”, completou.
A família de Doron Steinbrecher também comemorou o retorno dela a Israel. A mãe da jovem também agradeceu o apoio das autoridades ao longo dos últimos ano.
“Depois de 471 dias insuportáveis, nossa amada Dodo finalmente retornou aos nossos braços. […] Um agradecimento especial ao povo de Israel por seu caloroso abraço, apoio inabalável e pela força que nos deram durante nossos momentos mais sombrios”, escreveu.
A liberação das três reféns faz parte da primeira etapa do acordo de cessar-fogo em Gaza, negociado com Israel. O país teve ajuda de mediadores internacionais, como Estados Unidos, Catar e Egito. No total, um grupo de 33 reféns serão libertos pelo Hamas ao longo dos próximos dias.
O principal porta-voz militar de Israel, o contra-almirante Daniel Hagari, disse que três a quatro reféns mantidos em Gaza serão liberados a cada semana durante os primeiros 42 dias do acordo. O próximo grupo deve ser liberto no próximo sábado (25). Veja mais detalhes do acordo.
Em troca, Israel prometeu soltar prisioneiros palestinos e recuar suas forças militares na Faixa de Gaza.
Os nomes dos prisioneiros palestinos que serão libertos neste domingo ainda não foi divulgada, mas, segundo o grupo terrorista Hamas, a lista deve contar com aproximadamente 90 nomes. Segundo a agência de notícias Reuters, mulheres e crianças estão inclusos.
A negociação para um acordo entre Israel e Hamas durou mais de seis meses. Entenda abaixo o acordo feito entre Israel e Hamas e quais serão as próximas etapas.
🔵 1ª etapa: cessar-fogo e liberação de reféns
Neste domingo (19):
- O cessar-fogo deveria começar às 8h30 no horário local (3h30 no de Brasília), mas atrasou após o Hamas não divulgar quais reféns seriam libertos.
- As reféns israelenses foram entregues por Hamas para a Cruz Vermelha por volta das 16h no horário local (11h de Brasília).
- Na sequência, Israel entregará aproximadamente 90 prisioneiros palestinos. A lista não inclui nenhuma liderança do Hamas ou de outros grupos terroristas. Muitos são mulheres, crianças e outras pessoas que foram detidas recentemente e não foram julgadas.
Ao longo da primeira semana
- No sábado (25), o Hamas entrega mais 5 mulheres israelenses vivas.
- No mesmo dia, Israel, em troca, entrega até 250 palestinos (entre 30 a 50 para cada refém).
- Os moradores do norte de Gaza poderão retornar a seus locais de origem, mas sem portar armas;
- Tropas israelenses se retirarão do corredor Netzarim, a via principal de Gaza;
- A travessia de Rafah, entre o Egito e Gaza, voltará gradualmente a operar, permitindo a passagem de pessoas doentes para tratamento fora do enclave;
- Será permitido o aumento da entrada de ajuda humanitária a Gaza. A expectativa é que 600 caminhões possam entrar por dia, o triplo do máximo atingido durante o conflito.
Nas semanas seguintes
- Ocorrem liberações periódicas pelos dois lados, até um total de 33 reféns israelenses — vivos ou mortos — e quase 2 mil palestinos (1.167 detidos em Gaza desde o início da guerra e 737 remanescentes detidos antes de 8 de outubro de 2023).
Libertação de reféns em Gaza — Foto: Editoria de Arte/g1
🔵 2ª etapa: liberação de mais reféns, fim das hostilidades e saída de Gaza
- A expectativa é que os demais reféns israelenses vivos — em geral, soldados e civis jovens do sexo masculino —, e os corpos dos que morreram sejam devolvidos. Segundo o jornal israelense Haaretz, são 98 pessoas, 36 delas, mortas.
- Em troca, Israel deve sair completamente da Faixa de Gaza, permanecendo ao longo da fronteira para proteger as cidades e vilarejos fronteiriços de Israel.
🔵 3ª etapa: reconstrução de Gaza e devolução de corpos
- Negociações sobre a reconstrução de Gaza, que poderia levar anos. Há, porém, um debate sobre quem governaria a região: Israel não aceita que seja o Hamas, que hoje controla o enclave (leia mais abaixo).
- Devolução de todos os demais corpos de reféns.
E quem ficará no poder?
Quem administrará Gaza após a guerra é uma incógnita. Parece que essa questão foi deixada de fora da proposta atual devido à sua complexidade e à probabilidade de atrasar um acordo limitado.
A comunidade internacional insiste que Gaza deve ser administrada pelos palestinos, mas esforços para encontrar alternativas entre líderes da sociedade civil ou clãs locais têm sido amplamente infrutíferos.
No entanto, houve discussões entre Israel, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos sobre uma administração provisória para governar Gaza até que uma autoridade palestina reformada possa assumir o controle.
Guerra na Faixa de Gaza
O conflito na Faixa de Gaza foi intensificado em 7 de outubro de 2023, quando terroristas do Hamas fizeram uma invasão inesperada ao sul de Israel, matando mais de 1.200 pessoas e sequestrando mais de 200. No mesmo dia, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra ao Hamas, que governava a Faixa de Gaza.
Ao longo de mais de um ano de guerra, bombardeios de Israel e incursões terrestres mataram cerca de 48 mil palestinos, segundo o Hamas, muitos dos quais eram civis, mulheres e crianças. As ações militares também reduziram grandes áreas da Faixa de Gaza — principalmente no norte — a escombros e causaram uma crise humanitária envolvendo toda a população de 2,3 milhões de habitantes do território.