Ilustração/IA
Miguel Lucena
Seu Sebastião era uma lenda no grupo de WhatsApp da família. Com um bigode espesso e a habilidade incomparável de transformar absurdos em verdades universais, ele espalhava fake news com a confiança de quem conta que o sol nasce todos os dias. No entanto, sua obsessão virou problema, e Dona Celeste interveio:
— Sebastião, chega! Mais uma besteira e te bloqueio.
Levaram-no ao médico, que foi direto:
— Seu Sebastião, o senhor está viciado. Passe um mês sem espalhar fake news.
Nos primeiros dias, até que ele tentou. Regou plantas, jogou paciência e observou o mundo real. Mas a abstinência o corroía. Ele suava frio ao ver uma notícia absurda, as mãos tremiam ao não compartilhá-la. Até que, no vigésimo oitavo dia, não resistiu. Pegou o celular e escreveu:
— Sabiam que o pão francês capta energia cósmica? Fontes confiáveis, hein!
Antes que pudesse mandar outra, Dona Celeste apareceu. Ele suspirou, admitindo:
— Não resisti, mulher. Mas diz aí, não é genial?
Ela riu, meio contrariada. Afinal, era impossível resistir ao charme de um absurdo tão criativo. E naquela noite, Sebastião dormiu tranquilo. O tratamento? Ficou pra depois. Afinal, até as fake news precisam de uma boa pausa para respirar.