Moeda americana fechou o dia anterior em alta de 1,30%, cotada a R$ 5,9891, após chegar a R$ 6,0029. O principal índice de ações da bolsa de valores fechou em queda de 2,40%, maior redução diária em quase dois anos.
Por Redação g1
Dólar — Foto: freepik
O dólar perdeu o ímpeto visto pela manhã e operava com volatilidade no começo da tarde desta sexta-feira (29), no último pregão de novembro. O movimento veio na esteira de comentários dos líderes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Após o estresse do câmbio visto na véspera, em meio às incertezas sobre o pacote de cortes de gastos anunciado pelo governo federal (entenda mais detalhes ao final desta reportagem), o mercado recebeu positivamente as sinalizações de Lira e Pacheco sobre as medidas econômicas.
Nesta sexta-feira, Lira afirmou que a Câmara terá “boa vontade” com a análise de medidas de cortes de gastos e que qualquer iniciativa de renúncia de receitas será avaliada pelos parlamentares somente no ano que vem, com uma análise cuidadosa das fontes de financiamento.
Já Pacheco disse que sua posição em relação ao pacote anunciado pela equipe econômica é de “apoio com restrições e possibilidade de incremento”.
Além do cenário fiscal, investidores também reagem aos dados de emprego divulgados na manhã desta sexta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O desemprego caiu a 6,2% no trimestre terminado em outubro, no menor patamar da história, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
O Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, a B3, inverteu o sinal negativo visto pela manhã e operava em alta.
Dólar
Às 14h10, o dólar subia 0,23%, cotado a R$ 6,0029. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,1156, enquanto na mínima foi a R$ 5,9564. Veja mais cotações.
Na véspera, a moeda subiu 1,30%, cotada a R$ 5,9891. Na máxima do dia, chegou a R$ 6,0029.
Com o resultado, acumulou:
- alta de 3,02% na semana;
- ganho de 3,59% no mês;
- alta de 23,42% no ano.
Ibovespa
No mesmo horário, o Ibovespa tinha alta de 0,44%, aos 125.157 pontos.
Na véspera, o índice encerrou em queda de 2,40%, aos 124.610 pontos.
Essa foi a maior variação negativa diária desde 2 de janeiro de 2023, quando o índice recuou 3,06%, destaca o consultor Einar Rivero, CEO da Elos Ayta. Das 86 ações que compõem a carteira, apenas 8 registraram rentabilidade positiva.
Com o resultado, acumulou:
- queda de 3,50% na semana;
- perdas de 3,93% no mês;
- recuo de 7,14% no ano.
O que está mexendo com os mercados?
Após a repercussão negativa vista na véspera, com uma percepção de risco alta no mercado diante das incertezas com o pacote de cortes de gastos do governo federal e em meio ao anúncio de aumento da isenção do IR, novas falas de Haddad e dos líderes da Câmara e do Senado acalmaram os ânimos dos investidores nessa sexta-feira (29).
Em uma rede social, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que os deputados darão “todo esforço, celeridade e boa vontade” para aprovar as medidas de cortes de gastos anunciadas pelo governo, reafirmando o “compromisso inabalável” da Casa com o arcabouço fiscal.
Já o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) saiu em defesa do presidenteLuiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro da Fazenda, afirmando que a reação do mercado ao pacote fiscal foi exagerada e precipitada.
“O ministro Haddad fez um esforço danado, propôs reduções de despesas importantes, que não foram enfrentadas pelos últimos governos. E o mercado não reconhece isso”, disse Pacheco.
A Lula e Haddad, o presidente do Senado afirmou que o Congresso vai dar a sua contribuição e aprovar as medidas ainda neste ano.
O tom positivo de Lira e Pacheco acalmou os ânimos dos investidores, que seguem atentos a eventuais falas de autoridades sobre o pacote fiscal. Para o responsável pela área de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T Câmbio, Diego Costa, as falas ajudaram a trazer mais clareza sobre os temas fiscais.
“Com a reafirmação de que a isenção do IR para quem recebe até R$ 5 mil será tratada apenas no futuro, condicionada à capacidade fiscal, e o apoio ao corte de gastos com abertura para ajustes, o mercado interpretou essas mensagens como um movimento em direção à responsabilidade fiscal”, disse em nota.
Nessa linha, Haddad afirmou nesta sexta-feira que as medidas não são “bala de prata” e que pode analisar as despesas de novo, se necessário.
“Se tiver algum problema de cálculo, nós vamos voltar para a planilha, vamos voltar para o Congresso. vamos voltar para o presidente da República, com a demanda que nós achamos que é a correta”, disse o ministro em evento com dirigentes de bancos da Federação Brasileira de Bancos(Febraban).
Entenda o pacote de cortes de gastos
As medidas preveem um corte de R$ 70 bilhões em gastos públicos em 2025 e 2026, chegando a uma contenção de gastos de R$ 327 bilhões até 2030.
Para isso, o pacote traz uma série de mudanças, como por exemplo no salário-mínimo, em programas sociais, na aposentadoria de militares e em emendas parlamentares. O pacote era amplamente esperado pelo mercado, e o total de R$ 70 bilhões em cortes era visto com bons olhos.
No entanto, o anúncio, junto ao pacote de cortes, de uma proposta para isentar pessoas com rendimentos de até R$ 5 mil da cobrança do Imposto de Renda pegou mal e gerou dúvidas sobre a eficácia das medidas de contenção de gastos.
“Talvez o impacto em si seja um pouco aquém do que se esperava e certamente do que é necessário, mas está na direção correta. Mas ele acabou tendo, em paralelo, o anúncio da revisão da tabela de IR, que traz um risco fiscal relevante e acabou trazendo uma percepção de risco maior no mercado”, disse o presidente do Bradesco Asset, Bruno Funchal, ao g1.
Segundo Haddad, a expectativa é que a isenção custe R$ 35 bilhões ao governo, mas o ministro destacou que a intenção é que esse saldo seja compensado pela taxação dos mais ricos. A proposta inclui uma alíquota de até 10% para pessoas com rendimentos acima de R$ 50 mil.
Para Funchal, do Bradesco Asset, no entanto, as medidas ainda trazem um risco relevante em relação à tramitação.
“A gente sabe que a tramitação é sempre complexa. A gente sabe como entra o projeto, mas a gente não sabe como sai. E não é incomum o projeto sair sem a compensação. Isso traria um risco fiscal bastante significativo”, completou