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“O professor é peça-chave do processo de educação e de civilização. Sem professores de excelência, uma sociedade não tem como ficar de pé”.
Maria José Rocha Lima[1]
Há poucos dias o jornalista e humorista Rafinha Bastos, com toda a reverência, homenageou o professor Clóvis de Barros Filho. Este aproveitou a oportunidade para homenagear os seus companheiros de jornada, os grandes professores Felipe Pondé, Leandro Karnal e Mário Sérgio Cortella, sendo que este, além da grandeza de mestre, ele o considera também um homem generoso.
Clóvis de Barros Filho se considera um privilegiado em conviver com os três melhores professores do país. É, para ele, uma feliz coincidência os três maiores professores brasileiros serem contemporâneos, viverem no mesmo país, na mesma cidade e saírem do espaço acadêmico para enfrentar grandes plateias, auditórios, algumas vezes até hostis.
Em seguida, Rafinha lhe perguntou sobre o que o que significa ser professor no Brasil. E o Professor Clóvis de Barros respondeu: “Tem um entendimento que é o meu. E é interessante como, hoje, eu tenho pela memória dos meus professores um respeito maior, até do que eu já tinha, quando eles eram meus professores da vida vivida. Eu os homenageio o tempo inteiro nas coisas que eu digo, que escrevo na internet. Vira e mexe eu lembro de um ou outro que marcou a vida. O professor é peça- chave do processo de educação e de civilização. Sem professores de excelência, uma sociedade não tem como ficar de pé. Eu cada vez fico mais convencido disso”.
Para Clóvis de Barros, “no que tange à sociedade no Brasil, os professores já foram mais respeitados do que são. Ele sempre foi pobre, mas já foi muito respeitado. Teve legitimidade, assim, para ocupar a cátedra e se fazer ouvir. Hoje, os dados de agressão a professores são alarmantes. Num estado como São Paulo, a Secretaria de Educação do Estado informou que são 6 a 7 casos de agressão de professor por semana. Uma professora Itaquera, ao pedir silêncio, foi esfaqueada, morreu e não houve um frisson na sociedade brasileira”.
O professor Clóvis Barros lança provocações, e destaquei algumas sobre a importância de valorizar o professor e a educação brasileira. Ele lembra “que somos a 10ª economia do mundo e num ranking de universidades a USP ficou em 85º lugar, e nós ainda comemoramos, inclusive eu que fui professor da USP por quase toda a vida. Se tivéssemos uma revolução na educação e que começássemos pelo professor, botássemos um salário de 15 paus por mês( quinze mil reais por mês), aí o professor voltaria a ter um ofício valorizado, desejado, concorrido. Ia ter disputa nos concursos. Como tem concurso puxado, o professor de matemática se dedicaria a estudar na academia de matemática para ser aprovado no concurso e dar aula de matemática. Também o professor de física. Ai se voltaria a falar de mérito. Professor se equipararia aos melhores professores de boas instituições privadas. Professor teria condições de se especializar, alunos tendo acompanhamento psicológico, teria coach, viajaria ao exterior. Poderia estudar, se especializar nas melhores universidades. Por que o professor não pode ganhar igual ao defensor público, o diretor de Escola ganhar igual a um desembargador?
Por que vamos permitir que o Brasil, sendo a 10ª economia do mundo, esteja ocupando a 74ª posição na avaliação de matemática entre 80 países avaliados?”.
O professor, defende, é a chave da revolução social e da civilização brasileira.
Maria José Rocha Lima é professora mestre em educação. Doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira.