- Author, Rute Pina
- Role, Da BBC News Brasil em São Paulo
- Twitter, @rutepina
- Há 3 horas
Eleitores de 51 cidades brasileiras — 15 delas, capitais — voltam às urnas neste domingo (27/10) para escolher seus prefeitos — a BBC News Brasil vai acompanhar em tempo real a apuração do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e terá ainda uma página ao vivo especial com notícias, contexto e análise.
Além da disputa entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) em São Paulo, o maior colégio eleitoral do Brasil, cidades em todo o país têm confrontos significativos para os balanços de poder da política nacional.
A estrategista política Cila Schulman, CEO do Instituto de Pesquisa Ideia que atua em campanhas eleitorais desde 1988, afirma que o segundo turno em algumas capitais pode indicar nomes à direita para a corrida presidencial de 2026 como alternativa ao do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Falamos muito das derrotas do PT no primeiro turno, mas agora estará em jogo quais serão as vitórias e as derrotas de Bolsonaro, com lideranças independentes do bolsonarismo que podem surgir, a depender do resultado”, diz a analista, que cita Goiânia e Curitiba como cidades com resultados importantes para o ex-presidente.
Veja abaixo algumas disputas onde o resultado pode reverberar para além das fronteiras municipais.
1. Fortaleza: bolsonarista ameaça hegemonia da esquerda
Na capital cearense, o deputado federal André Fernandes (PL), de 26 anos, disputa com o experiente Evandro Leitão (PT), de 57, deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Estado.
O jovem candidato bolsonarista, com forte presença nas redes sociais, ameaça interromper duas décadas de hegemonia da centro-esquerda no município. Fortaleza elegeu prefeitos de PT, PSB ou PDT nas últimas cinco disputas municipais.
Na cidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) derrotou Bolsonaro com certa vantagem na eleição de 2022 (58,18% a 41,82%). Mas, apesar do histórico lulista de Fortaleza, Fernandes terminou na frente no primeiro turno, com 40% dos votos válidos, contra 34% do segundo colocado.
Enquanto Lula é frequente na propaganda eleitoral de Leitão e já compareceu a um comício no segundo turno, Bolsonaro participou apenas do primeiro ato de campanha de Fernandes, em agosto.
As pesquisas de segundo turno têm dado, em sua maioria, empate técnico, com Fernandes numericamente à frente.
O último levantamento do instituto AtlasIntel, divulgado no sábado (26/10), deu o candidato do PL com 49,8% das intenções de voto, e o petista com 48,9% (50,5% contra 49,5% nos votos válidos)— a margem de erro é de dois pontos percentuais.
O Datafolha, também de sábado, deu cenário parecido — 51%, contra 49% nos votos válidos, com margem de erro de 3 pontos percentuais.
A Quaest indicou os dois numericamente empatados: cada um com 50% dos votos válidos. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.
2. Goiânia: embate entre Bolsonaro e Caiado
A disputa entre o empresário Sandro Mabel (União Brasil) e o ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL) por Goiânia é uma das mais importantes para Bolsonaro neste segundo turno. Tanto é que o ex-presidente acompanha o resultado do segundo turno na capital goiana.
Enquanto o candidato do PL é apoiado pelo ex-presidente, ainda um relevante cabo eleitoral da direita, Mabel é o candidato de Ronaldo Caiado (União), governador com a melhor avaliação no país, segundo pesquisa da AtlasIntel publicada em 12 de agosto.
O governador tem se projetado para as eleições presidenciais de 2026.
“Caiado se coloca como candidato e como opositor de Bolsonaro. Essa disputa por Goiânia será uma questão de honra para ambos, que se têm se afastado desde a pandemia”, diz Cila Schulman, do Instituto de Pesquisa Ideia.
Em entrevista ao Valor Econômico, Mabel afirmou que “Caiado vai mostrar uma força e que a direita não é só o Bolsonaro”.
Ele tem 50% das intenções de voto, de acordo com a pesquisa Real Time Big Data divulgada na sexta-feira (25/10). Já Fred Rodrigues aparece com 46%.
No levantamento da Quaest divulgado no sábado, Mabel tem 54% e o candidato do PL surge com 46% dos votos válidos. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.
O ex-presidente tem reforçado sua presença no Estado e enviou, nesta semana, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro para a cidade em uma agenda em apoio a Rodrigues.
3. Cuiabá: PT se mostra competitivo em bastião conservador
Cuiabá se tornou uma cidade estratégica para o PT, já que o deputado estadual Lúdio Cabral (PT) tem se mostrado competitivo na disputa contra Abílio Brunini (PL).
No primeiro turno, o representante do PL, segundo candidato mais votado para deputado federal no Estado, terminou na frente, com 39,61% dos votos válidos. Já o petista somou 28,31%, na segunda colocação.
No entanto, as pesquisas mostram um embate acirrado. Um levantamento do instituto Paraná Pesquisas, divulgado dois dias antes da votação, mostra Brunini com 48,3% das intenções de votos, e Cabral com 43,1%. Mas, considerando a margem de erro de 3,5 pontos percentuais da pesquisa, eles estão tecnicamente empatados.
A Quaest divulgada no sábado apresenta uma disputa ainda mais apertada. Os dois aparecem com 50% dos votos válidos segundo a pesquisa. A margem de erro é de 3 pontos percentuais.
Para o PT, a disputa é importante para conquistar uma cidade em um reduto conservador e com forte presença do agronegócio.
O petista recebeu apoio do agrobilionário Elusmar Maggi, sócio do Grupo Bom Futuro e primo do ex-governador Blairo Maggi, indicando alianças com o setor.
“O candidato tem se colocado muito diferente do partido em outros estados, falando contra aborto, mostrando um PT mais light para atrair o eleitorado”, diz a analista política Cila Schulman.
4. Natal: empate técnico e alta abstenção
Outra cidade importante para o PT é a capital do Rio Grande do Norte. Lá, os deputados federais Natália Bonavides (PT) e Paulinho Freire (União Brasil) se enfrentam em uma disputa acirrada.
Segundo a mais recente pesquisa da Quaest, os dois candidatos estão tecnicamente empatados.
Paulinho tem 53% e Natália, 47%, sendo que a margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos.
Os dois candidatos, no entanto, têm que enfrentar um mesmo obstáculo: a alta taxa de abstenção registrada no primeiro turno.
Na capital potiguar, mais de 145 mil eleitores que estavam aptos a votar não participaram do primeiro turno, uma abstenção de 25,22%.
Cila Schulman diz que a ausência nas urnas reflete problemas no transporte público da cidade e desilusão com a política. “Vai ser uma eleição dos brancos e nulos”, diz.
5. João Pessoa: direita dividida e fator Campos
O atual prefeito de João Pessoa, Cicero Lucena (PP), e o ex-ministro da saúde Marcelo Queiroga (PL) vão disputar o segundo turno na capital da Paraíba.
No 1º turno, Lucena conquistou 49,16% dos votos válidos, enquanto Queiroga obteve 21,77%.
A pesquisa Quaest do sábado mostra Cícero com 60% dos votos válidos. Queiroga tem 40%. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
A disputa também é interessante para olhar outro nome: o prefeito reeleito de Recife, João Campos (PSB). Ele declarou apoio à candidatura de reeleição de Lucena em um vídeo publicado no perfil do Instagram do candidato de João Pessoa.
Para Schulman, a capital da Paraíba e outras cidades do Nordeste onde o prefeito do Recife tem rodado pela região podem mostrar sua força.
“Natal, Fortaleza, João Pessoa e algumas cidades de Pernambuco são interessantes para analisar o fenômeno de João Campos como uma liderança regional importante”, diz a analista.
6. Curitiba: divisão do eleitorado bolsonarista
O embate entre a jornalista Cristina Graeml, do Partido da Mulher Brasileira (PMB), e Eduardo Pimentel (PSD) pelo comando de Curitiba é outra disputa simbólica para Bolsonaro.
Graeml iniciou a campanha no primeiro turno com 5% das intenções de votos, atrás de quatro candidatos. Ela obteve 31,17% dos votos, enquanto Pimentel ficou com 33,51% dos votos.
A pesquisa Quaest do sábado mostra Pimentel com 55% dos votos válidos e Graeml com 45%. A margem de erro é de 3 pontos para mais ou para menos.
A jornalista diz ter gastado R$ 760 mil reais na campanha; seu oponente, por outro lado, declarou gastos de mais de R$ 13,5 milhões.
Pimentel tem como candidato a vice-prefeito o ex-deputado Paulo Martins, que é filiado ao PL de Bolsonaro. A jornalista também é ligada ao ex-presidente e se apresenta como candidata da direita e da renovação.
Apesar de se declarar bolsonarista, Graeml teve um apoio tímido de Bolsonaro no primeiro turno, mas conta com o apoio entusiasmado do ex-coach Pablo Marçal (PRTB), terceiro colocado na eleição em São Paulo.
Já Pimentel é apoiado pelo governador Ratinho Júnior (PSD) e pelo prefeito Rafael Grecca (PSD).
Com alta aprovação, com avaliação positiva de 76,8% da população, segundo levantamento do Paraná Pesquisas, Ratinho Júnior é outro governador da direita que quer se viabilizar para 2026.
7.Camaçari: disputa voto a voto por bastião sindical da Bahia
Com uma diferença de apenas 559 votos no primeiro turno, Flávio Matos (União Brasil) e Luiz Caetano (PT) disputam a prefeitura Camaçari (BA), cidade de 300 mil habitantes e quarto maior colégio eleitoral da Bahia.
O embate é considerado uma antecipação da disputa para o governo do Estado em 2026, já que a cidade é estratégica para os dois partidos, que polarizam as eleições estaduais desde 2002.
Caetano já foi deputado federal e prefeito de Camaçari três vezes. O petista contou com a presença de Lula em sua campanha no segundo turno e tem ao seu lado o governador Jerônimo Rodrigues, o senador Jaques Wagner e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, todos do Partido dos Trabalhadores.
O PT aposta nestas eleições para retomar a influência na cidade, berço do partido que, no Estado, cresceu com o sindicalismo ligado ao Polo Petroquímico de Camaçari.
Com a vitória, o partido também comandaria ao menos uma cidade média na Bahia. Até agora, a maior cidade do estado aonde partido venceu foi Barra, com 51 mil habitantes.
Já Matos, vereador há dois mandatos e presidente da Câmara Municipal, tem o apoio de ACM Neto e do prefeito reeleito de Salvador, Bruno Reis.
Com uma vitória, o União Brasil aumentaria o poder na região da Grande Salvador — o partido de ACM Neto venceu na capital e em Lauro de Freitas, Simões Filho e Mata de São João.