Relatório elaborado pela ONG Oceana Brasil mostra que país lidera, na América Latina, em despejo do resíduo nos oceanos. Em todo o planeta, contribui com 8% daquilo que é jogado para contaminar a fauna marinha
Brasil lidera o despejo de plástico nos mares entre os países latino-americanos – (crédito: Camila Pierobon)
A poluição pelo plástico já é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, atrás apenas da emergência climática. O impacto desse problema atinge ecossistemas em todo o mundo, com a biodiversidade marinha sendo uma das mais afetadas. O relatório Fragmentos da Destruição: Impactos da Poluição Plástica à Biodiversidade Marinha Brasileira, divulgado ontem pela organização não-governamental Oceana Brasil, explica o papel do país nesta crise e alerta para os riscos à saúde pública e ao meio ambiente.
De acordo com o relatório, o Brasil despeja anualmente cerca de 1,3 milhão de toneladas de plástico nos oceanos — aproximadamente 8% do total global. Isso coloca o país como o oitavo maior poluidor pelo resíduo no mundo e o primeiro na América Latina.
O oceanólogo Ademilson Zamboni, diretor-geral da Oceana Brasil, explica que essa poluição é fruto de um modelo de produção e descarte insustentável. “O plástico que polui nossos mares chega por conta de um modelo que precisa ser urgentemente substituído”, adverte.
Essa situação não afeta apenas o ecossistema marinho, mas também a saúde humana. O estudo alerta que os microplásticos — fragmentos minúsculos resultantes da degradação do resíduo — foram detectados em nove das 10 espécies de peixes mais consumidos no Brasil. A presença desses microplásticos também foi encontrada na fauna marina da Amazônia, de onde 98% das amostras analisadas apresentaram vestígios do material nos intestinos e brânquias.
Desnutrição
O plástico, quando ingerido pelos animais, pode levar à desnutrição, à queda da imunidade e até mesmo à morte, além de expor os organismos a compostos químicos tóxicos. Segundo o relatório, 85% das espécies marinhas que o ingerem estão ameaçadas de extinção. No caso específico das tartarugas-verdes, comer apenas um grama de plástico aumenta em 450% o risco de definhamento.
Por isso, organizações ambientalistas aumentaram a pressão sobre o governo federal a tomar medidas mais rigorosas para enfrentar a crise. “Esperamos que os graves dados que essa publicação revela impulsionem políticas públicas para reduzir, urgentemente, o plástico em suas muitas formas no ambiente, e restaurar a saúde dos nossos oceanos e de toda a biodiversidade marinha”, salienta , Iran Magno, analista de campanhas da Oceana.
Entre as medidas que as organizações ambientalistas pressionam para que se tornem realidade está a aprovação do Projeto de Lei (PL) 2.524/22, parado na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Esse projeto visa implementar uma economia circular do plástico, promovendo a reinserção do material no ciclo produtivo por meio da reutilização, reciclagem eficiente e compostagem. O objetivo é evitar que o material seja descartado no meio ambiente, seguindo as melhores práticas internacionais.