Presidente citou ’70 mil jovens por ano’ que ingressam no serviço militar, e falou em treiná-los para ações de defesa civil. Lula visitou Pantanal e Amazônia e retomou intenção de criar ‘autoridade climática nacional’.
Por Guilherme Mazui, g1 — Brasília
Fogo no Parque Nacional Serra da Canastra, em Minas Gerais — Foto: Reprodução/Redes Sociais
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira (11) que o Brasil pode recorrer aos jovens em formação militar para reforçar as linhas de combate às queimadas e aos impactos negativos da estiagem prolongada em quase todo o país.
Segundo Lula, a ideia já foi levada ao comandante do Exército, general Tomás Paiva. O presidente não informou prazo para a medida ser colocada em prática.
“Eu disse [ao comandante do Exército] que, quem sabe, a gente devesse aproveitar esse jovens que vão servir o Exército para que a gente formasse eles exatamente na Defesa Civil, para que eles tivessem preparados para enfrentar desastres climáticos”, afirmou Lula em entrevista à rádio Norte FM.
“Já que ele [o jovem] está um ano nas Forças Armadas, vamos tentar preparar esses meninos. São 70 mil jovens por ano, que a gente pode preparar e torná-los profissionais de combate à questão climática. De defesa do planeta, da floresta, da água, da vida humana. A gente pode fazer isso, porque vamos precisar”, seguiu.
Ao citar a ação de brigadistas voluntários para combater as queimadas no Pantanal, Lula disse esperar que a população brasileira aprenda e se dedique a enfrentar os impactos negativos das mudanças climáticas – assim como aprendeu a lidar com a dengue, fazendo pequenas ações em casa para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
“Nós queremos ter milhões de pessoas preparadas para enfrentar a questão de queimadas no Brasil”, disse o presidente.
Autoridade climática
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a falar nesta quarta-feira que o governo levará a sério a questão climática e não tratará o tema como “secundário”.
Na terça (10), após visita ao Amazonas, Lula anunciou que vai tirar do papel a promessa de criar uma autoridade nacional para o clima, além de editar uma medida provisória com o “estatuto jurídico” para a emergência climática.
“No fundo no fundo, queremos levar definitivamente a sério a questão climática. Não é mais uma questão secundária, da universidade, apenas de cientistas. É uma questão da responsabilidade de todos nós”, disse.
O governo ainda não informou qual será o modelo dessa autoridade climática – se será uma instância superior aos ministérios ou abrigada no Ministério do Meio Ambiente, por exemplo. Também não detalhou se terá orçamento próprio e quem será o chefe do novo órgão.
Segundo Lula, o governo quer “aproveitar esse momento” em que os olhos estão voltados para a Amazônia para cobrar o financiamento internacional das ações de preservação.
“Para que a gente receba em dinheiro para cuidar das pessoas que moram lá. Nós temos que fazer os europeus e o mundo desenvolvido entender que embaixo de cada copa de árvore mora uma pessoa. Tem um extrativista, um seringueiro, um pescador, um indígena, um pequeno colono. Essa gente pode usar a preservação da floresta como uma forma de viver, de ganhar dinheiro, de cuidar da sua família”, disse Lula.
Garimpo e proteção a yanomamis
Lula também foi questionado sobre o avanço do garimpo na região Norte e sobre a proteção aos indígenas Yanomami – população que há anos sofre com doenças contagiosas, desnutrição e alta mortalidade infantil.
“Nós estamos fazendo aquilo que é necessário fazer. Lamentavelmente, fico muito triste quando ouço dizer que continua a morrer crianças de desnutrição. Não pode ser, porque já estamos mandando comida, cesta básica, não sei. Já tenho conversado com a ministra Nísia [Trindade, da Saúde], que tem se esforçado, tem mandado mais médicos lá”, disse.
“Aqui em Brasília corre um boato de que o governador [de Roraima, Antonio Denarium] teria vinculação com essa gente do garimpo. E o que estamos fazendo é investigando e tentando proibir. Não é fácil você destruir 757 dragas e balsas. O problema é que como quem financia o garimpo não está lá, está em outro lugar, você destrói uma balsa e no dia seguinte tem outra balsa. Destrói uma draga, no dia seguinte tem outra draga”, disse.