Miguel Lucena
Diante da enxurrada de leis de proteção aos animais, sobretudo a cães e gatos, algumas por medida de justiça e outras por oportunidade política, venho invocá-las, por analogia, em socorro aos humanos abandonados.
Visitei o Córrego das Corujas e encontrei muitas crianças dormindo no chão, por falta de camas ou colchões, colchonetes ou esteiras de palha.
Mesmo com as iniciativas de institutos sociais, milhões ficam à mercê dos perigos das ruas por falta de escola integral. Desaprendem em um turno o que aprenderam em outro, não fazem o dever por falta de reforço ou porque os pais são analfabetos ou semialfabetizados.
Nos anos 1930, o advogado Sobral Pinto invocou a Lei de Proteção aos Animais para defender o líder comunista Luiz Carlos Prestes, vítima de maus-tratos na ditadura do Estado Novo após a insurreição de 1935.
Sem desmerecer o amor cada vez maior das pessoas e dos políticos pelos animais, peço-lhes também um pouco de atenção para os humanos carentes de amor, atenção e cuidados.
Na minha visão, há um deslocamento de afeto. Que respeitemos os animais sim. Mas abandonar o ser humano como temos observado, é desumano.