Itamaraty foi informado de que expulsão deve ocorrer nesta quinta. Decisão de retirar embaixador do país foi tomada, segundo imprensa nicaraguense, após ausência brasileira em evento que celebrava os 45 anos da Revolução Sandinista.
Por Nilson Klava, Globonews
Breno Souza da Costa, embaixador brasileiro na Nicarágua. — Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, conversa nesta manhã com o presidente Lula (PT) sobre a expulsão do embaixador brasileiro na Nicarágua, Breno Souza da Costa, prevista para acontecer nesta quinta-feira (8).
A conversa entre os dois acontece antes da reunião ministerial convocada pelo presidente. A informação foi confirmada pelo Itamaraty.
A Nicaragua é um país da América Central, que vive uma autocracia, segundo o índice V-DEM, que mede o status das democracias pelo mundo (entenda mais abaixo). A nomenclatura é dada para regiões em que há apenas um detentor do poder político.
A decisão de expulsar aconteceu, segundo a imprensa nicaraguense, em retaliação à ausência brasileira num evento, de 19 de julho, que celebrava os 45 anos da Revolução Sandinista – processo político que colocou fim a uma ditadura instaurada no país desde 1936. A comemoração ocorreu em Manágua, capital do país.
Ortega é um ex-guerrilheiro de um movimento de esquerda dos anos 1970 conhecido como sandinista. Ele também governou o país nos anos 1980, depois que seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), derrubou em 1979 o ditador Anastasio Somoza – os sandinistas governaram Nicarágua até 1990, quando foram derrotados na eleição presidencial realizada no país.
Segundo o Itamaraty, o embaixador não foi ao evento por conta do congelamento das relações diplomáticas entre os dois países, feita pelo Brasil há um ano em retaliação à prisão de padres e bispos pelo governo de Daniel Ortega.
A expulsão de um embaixador significa que a Nicarágua decidiu cortar quaisquer relações diplomáticas com o Brasil – mesmo que essas estivessem congeladas.
Governo nicaraguense
Desde 2017, a Nicarágua está sob comando de Ortega e passa por uma crise de direitos humanos, com a perseguição de oponentes políticos, a proibição de atividades religiosas católicas e o fechamento de universidades, organizações não-governamentais e veículos de imprensa.
E a crise política e humanitária no país se aprofunda desde 2018. Naquele ano, por exemplo, protestos no país – contra e a favor do governo Ortega – foram reprimidos de forma violenta, deixando mais de 300 mortos, de acordo com estimativa da Organização das Nações Unidas (ONU).
Em 2022, o governo nicaraguense iniciou uma ofensiva contra a Igreja Católica do país, confiscando imóveis, dissolvendo ordens jesuítas e prendendo padres e bispos que denunciavam a guinada autoritária do esquerdista.
O Brasil então passou a atuar como mediador entre o Vaticano e Manágua e pediu que o governo nicaraguense que soltasse bispos presos no país. Na semana passada, a embaixada do Brasil na Nicarágua recebeu uma queixa formal do governo Ortega sobre essa posição.