Na Europa, mercados abriram sem uma direçaõ definida, com alguns índices subindo e outros caindo. Já na Ásia e na Oceania, a maioria dos principais índices subiu.
Por Bruna Miato, g1
Mercados seguem voláteis pelo mundo — Foto: Pixabay
Depois de uma segunda-feira marcada por quedas generalizadas nas bolsas do mundo inteiro, os mercados iniciaram o pregão desta terça-feira (6) com movimentos mistos. Parte das bolsas vivem uma correção das perdas da véspera, enquanto outras continuam caindo.
Na Europa, onde os mercados abrem nas primeiras horas da manhã (pelo horário de Brasília), os com volatilidade e sem uma direção definida. O Stoxx 600, que reúne 600 empresas listadas entre 17 países do continente, subia 0,24% às 11h30, depois de operar em queda na maior parte do pregão
No mesmo horário, os índices:
- DAX, da Alemanha, subia 0,15%
- FTSE 100, da Inglaterra, caía 0,12%
- CAC 40, da França, caía 0,35%
- IBEX 35, da Espanha, caía 0,44%
Já no Japão, o Nikkei 225, principal índice acionário da bolsa de valores de Tóquio, fechou o dia com uma alta de 10,23%.Ontem, esse foi o índice que mais caiu, com uma baixa de 12,4%, a segundo maior queda percentual da história do país.
As baixas registradas pelo mundo ontem foram influenciadas, sobretudo, pelos temores de que os Estados Unidos podem passar por uma recessão econômica em breve, depois de dados do mercado de trabalho mais fracos que o esperado (leia mais abaixo).
Além disso, no Japão, as ações despencaram também por conta de uma valorização do iene (moeda oficial do país) contra o dólar, após o Banco Central elevar suas taxas de juros — um feito raro, que acontece somente pela segunda vez em 17 anos. Com o iene mais forte, as exportações japonesas acabam ficando mais caras para os compradores estrangeiros, o que é ruim para as empresas.
Depois de um pregão com quedas tão expressivas, é normal que o mercado realize um movimento conhecido como correção dos preços, em que investidores aproveitam os valores mais baixos de ações para investir por um preço mais atrativo, o que acaba valorizando a bolsa como um todo.
Além do Japão, na Ásia e na Oceania, onde os mercados já fecharam, a maioria das principais bolsas subiu nesta terça, com exceção de Hong Kong:
- No Taiwan, o índice Taiex subiu 3,38%, depois de uma queda forte de 5,7% na véspera
- Em Hong Kong, o Hang Seng continuou o movimento de baixa e caiu 0,31%
- Na Austrália, o S&P/ASX200 avançou 0,41%, contra uma queda de 1,3% ontem
- Na Coreia do Sul, o Kospi subiu 3,3%, quase igualando as perdas de 3,4% da segunda-feira
O que fez as bolsas despencarem?
Na última sexta-feira, o payroll, um dos principais relatórios de emprego dos Estados Unidos, reportou 114 mil vagas não agrícolas criadas em julho, bem abaixo das 175 mil vagas que eram esperadas pelo mercado financeiro.
Os números fizeram coro a outro dado de emprego divulgado na quinta-feira: os Estados Unidos tiveram um aumento de 14 mil pedidos iniciais de seguro desemprego na semana passada, totalizando 249 mil, contra 236 mil das projeções de mercado.
“Esses números sugerem enfraquecimento no mercado de trabalho americano, embora os pedidos de auxílio-desemprego tendam a ser voláteis nesta época do ano. Os sinais recentes de desaceleração da atividade reforçam nosso cenário de que o Fed iniciará seu ciclo de flexibilização monetária em setembro”, diz a XP Investimentos.
Os números do mercado de trabalho que frustraram as expectativas vieram apenas dois dias após o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decidir manter suas taxas de juros inalteradas por, pelo menos, mais 45 dias. Hoje, elas estão entre 5,25% e 5,50% e participantes do mercado financeiros acreditam que um ciclo de cortes deve começar em setembro.
Juros altos encarecem processos de tomada de crédito e financiamento para pessoas e empresas, o que tende a diminuir o consumo da população e frear os investimentos das companhias em seu próprio crescimento – podendo afetar, ainda mais, o mercado de trabalho.
Segundo César Garritano, economista-chefe da SOMMA Investimentos, há uma percepção de que o Fed possa ter “dormido no ponto” quanto ao momento de iniciar os cortes nos juros e como se posicionar em seus comunicados.
“A hora que era para ser hawkish (mais agressivo em relação ao controle da inflação) foi dovish (menos agressivo), a hora que era para ser dovish foi hawkish. A última projeção do Fed é de apenas um corte de juros e se a gente olhar o que foi precificado na curva dos Estados Unidos é um corte de 125 até 150 bases points para esse ano de 2024. Então isso impressiona, isso é algo realmente muito fora do que a gente tinha duas semanas atrás, por exemplo”, explica o economista.
Além disso, olhando para o mercado corporativo, algumas das maiores empresas do mundo (que são americanas) reportaram seus resultados nos últimos dias e os números também frustraram os investidores, com destaque para a Amazon (uma das companhias com os maiores valores de mercado da atualidade) e a Intel.
A Amazon teve resultados considerados mistos. A receita veio abaixo do esperado, registrando US$ 148 bilhões contra estimativas de US$ 148,8 bilhões, mas o lucro por ação surpreendeu positivamente os analistas, com um valor de US$ 1,26 por ação.
As projeções da empresa para os próximos trimestres, no entanto, desagradaram.
“Em termos de receita, a companhia afirmou que deverá ficar entre US$154-158bi (ante uma expectativa de US$158,4bi) e, para o lucro operacional, a Amazon espera algo entre US$11,5-15bi (o mercado apontava para US$15,7bi)”, explica Paulo Gitz, analista de internacional da XP.
Já a Intel reportou resultados vistos como bastante negativos e suas ações já despencam mais de 20% nos pré-mercados. Gitz pontua que as principais surpresas negativas vieram da receita – US$ 12,8 bilhões contra US$ 12,9 bilhões projetados – e do lucro por ação – US$ 0,02 contra US$ 0,10 esperado.
“A Intel anunciou suspenção dos dividendos, por conta dos resultados que foram impactados negativamente pelas vendas fracas da empresa de semicondutores, que tem perdido espaço de mercado para concorrentes como Nvidia”, completa o analista.
Os resultados das companhias, explicam especialistas, acendem um sinal de alerta de que os juros altos podem estar pesando sobre os negócios, o que pode impactar a economia como um todo.