Arnaldo Niskier
da Academia Brasileira de Letras e
Presidente de Honra do CIEE/RJ
Durou quase duas horas o discurso de improviso de Ailton Krenak na posse do primeiro indígena na centenária Academia Brasileira de Letras. Foi uma festa muito bonita, em que se falou dos povos originários e do meio ambiente. O novo membro da ABL foi saudado pela acadêmica Heloísa Teixeira, que recordou a importância da cadeira número cinco, ocupada entre outros por Ivan Junqueira e Rachel de Queiroz, a primeira mulher a entrar para a Casa de Machado de Assis.
A originalidade do discurso de Krenak pôde ser anotada em diversos momentos, como na homenagem a outros defensores dos povos originários. O Marechal Cândido Rondon, mesmo não tendo pertencido à cadeira número 5, foi homenageado. “O rito nos põe num lugar de criação de mundos”, disse ele, diante de uma casa cheia, em que se destacava a presença de autoridades como o presidente da Funai, Joenia Wapichana, a ministra da Cultura, Margareth Menezes e o ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida.
O pensamento filosófico de Krenak, expresso em alguns livros de sua autoria, como “A vida não é útil” e “Ideias para adiar o fim do mundo”, em que foi difundido o pensamento ameríndio, propondo novos modos de vida e maneira de se relacionar com o meio ambiente, foi devidamente apreciado pois foi aplaudido seguidamente pela platéia.
Outros imortais foram homenageados, como Darcy Ribeiro, José Murilo de Carvalho e Gilberto Gil, este chamado de “mestre”, com o discurso interrompido por aplausos.
Krenak criticou o que ele chama de “humanidade zumbi”, uma ideia de progresso que deslocou os homens do corpo a terra, levando ao consumo desenfreado e à destruição da natureza.
Além de Carlos Drummond de Andrade, que não foi acadêmico, o novo acadêmico prestou homenagem a autores africanos como Mia Couto e José Eduardo Agualusa. Abordando questões indígenas, negras e ambientais, fez um discurso político de primeira ordem. Por isso, agradou bastante.