Arquivo pessoal
Zé Euflávio
Perguntaram a um homem de saber, que havia viajado muito pela Terra, se ele tinha encontrado homens extraordinários sobre os quais gostava de falar.
— Não encontrei senão um homem e meio — ele disse.
— Quem era a metade do homem?
— Um homem que não falava senão bem dos outros.
— E o homem inteiro?
— Um homem que não dizia nada.
Porque o senhor Ademar Alvino era um grande comerciante, fazendeiro e chefe político aliado dos Leite de Piancó. Era irmão de Esmerino Alvino, também dono de um comércio, que logo se transferiu para a terra do Padre Aristides.
Ademar e Esmerino eram muito ligados ao ponto de chegar a um não fazer um negócio sem combinar com o outro. Mas seu Ademar era um homem investidor e pensava muito antes de botar um negócio. Inventou de montar uma torrefação de café em Sant’ana. Era o Café Curió, torrado por Tio Manoel Pinto.
Fizeram uma parceria e um passou a vender o café do outro em Piancó. Seu Ademar era um homem ligado aos Leite de Piancó desde os tempos do PSD e representava o MDB em Sant’ana, fazendo oposição aos Teotônio.
Numa eleição, surgiu uma conversa que Solon Bastos Cavalcante, representante da Arena, seria o candidato. Ademar era amigo de Solon e os dois se encontraram.
— Compadre Solon é verdade essa conversa que andam dizendo por aí que você é candidato a prefeito? — indagou.
— É verdade meu compadre. O grupo quer e eu aceitei.
— Pois sendo assim, o MDB não apresentará candidato.
Solon foi candidato único, ganhou a eleição. Quando Sant’ana era distrito de Piancó, seu Ademar foi vereador por vários mandatos. Essa conversa entre os dois foi contada por Solon a Thalita Cristina, neta de Ademar Alvino.
Mas, a gente faz um plano e o cramulhão, o bicho ruim, aquele, faz outra. Porque Vilani, filha de seu Esmerino, era uma morena de cabelos negros e olhos amendoados. Uma moça muito bonita, elegante, educada e gentil. Ajudava ao Pai no negócio.
Um certo dia, Esmerino foi no mercado, tomou umas lapadas de Cachaças, voltou e deitou-se numa rede. Um homem entra no estabelecimento para comprar tecido para fazer uma camisa e é atendido por Vilani. O rapaz faz um galanteio para a moça e Esmerino escutou. Saiu e deu cinco tiros no rapaz, matando-o.
Pegou o carro, foi para Sant’ana à procura da ajuda do irmão. Seu Ademar pensava rápido e logo montou o plano de fugir pela Serra do Saco, na direção de Pernambuco. Viajaram uma noite e um dia, até chegar em Granito.
Lá, Esmerino mudou de nome, montou um negócio, fez muitas amizades e tornou-se prefeito do município. Anos depois, seu filho, Ernani Alvino de Lacerda, também foi eleito prefeito de Granito.
Seu Ademar morreu bem velhinho, com sua muleta com um cravo de ouro no Cabo, sempre fazendo elogios a beleza das moças. Era uma figura…