A agência da ONU, com sede em Genebra, também observou que a década que terminou em 2023 foi a mais quente desde o início das medições
Há uma “alta probabilidade” de 2024 ser o ano mais quente de que há registros, depois que a década concluída em 2023 bateu um recorde de calor que empurra o planeta “à beira do abismo”, alertou a ONU nesta terça-feira (19).
Um relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) confirmou os dados preliminares que mostram que 2023 estabeleceu níveis de calor sem precedentes desde o início dos registros.
A agência da ONU, com sede em Genebra, também observou que a década que terminou em 2023 foi a mais quente desde o início das medições.
Além disso, houve vários recordes de níveis de gases de efeito estufa, temperaturas da superfície, temperatura e aumento do nível do mar e derretimento das geleiras.
“Não podemos dizer com certeza”, mas “diria que há uma alta probabilidade de 2024 bater o recorde de 2023”, declarou Omar Baddour, encarregado de monitoramento do clima da OMM, durante a apresentação do relatório.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que este relatório mostra que o planeta “está à beira do abismo”.
O ano de 2023 foi o mais quente dos 174 anos já registrados e a temperatura média global perto da superfície foi 1,45°C acima do nível de referência da era pré-industrial, de acordo com a OMM.
A secretária-geral da OMM, a argentina Celeste Saulo, indicou que o mundo nunca esteve tão perto, ainda que de forma temporária, do limite inferior de 1,5°C do Acordo de Paris de 2015 sobre a mudança climática.
“Alerta vermelho”
“A mudança climática vai muito além das temperaturas. O que presenciamos em 2023, especialmente em relação ao aquecimento dos oceanos, ao derretimento das geleiras e à perda sem precedentes do gelo marinho da Antártica, é particularmente preocupante”, disse Saulo.
Para Saulo, “a crise climática é o desafio essencial que a humanidade enfrenta” e este relatório constitui um “alerta vermelho”, já que houve recorde em “cada um dos indicadores climáticos”.
Um indicador que a OMM considerou especialmente preocupante para o final de 2023 é que 90% dos oceanos sofreram ondas de calor em algum momento do ano.
Da mesma forma, o conjunto global de geleiras de referência sofreu a maior perda de gelo registrada desde 1950, e a extensão do gelo marinho antártico foi a menor das medições.
Aumento do nível do mar
Outro fator preocupante é que o aquecimento contínuo dos oceanos, que dilata o volume de água, combinado ao derretimento das geleiras, levou em 2023 a um aumento do nível do mar recorde desde que os registros de satélite começaram, em 1993.
A OMM destacou que nos últimos dez anos a taxa de aumento do nível médio do mar em todo o mundo foi mais que o dobro da primeira década em que este indicador começou a ser medido.
A organização indicou que estas mudanças geram fenômenos climáticos extremos, como secas e enchentes, que têm graves repercussões como deslocamentos populacionais, perda de biodiversidade e insegurança alimentar.
De acordo com o relatório da OMM, o número de pessoas que sofrem de insegurança alimentar aguda no mundo aumentou de 149 milhões antes da pandemia de covid-19 para 333 milhões de pessoas em 2023.
Em uma nota positiva, a agência da ONU observou que há “uma transição energética substancial em curso” e que no ano passado a capacidade de incorporar energias renováveis aumentou 50% em relação a 2022.
Para Guterres, ainda existe uma oportunidade de manter o aumento da temperatura do planeta a longo prazo abaixo do limite de 1,5ºC para “evitar o pior do caos climático”.