Corporação reforça cuidados com a tropa ao contratar psicólogos e psiquiatras, além de construir um novo centro de atendimento psicossocial
Um concurso público vai dar posse a três psiquiatras militares, além de outros dois para compor um cadastro reserva | Foto: Renato Alves/Agência Brasília
“Estamos de braços abertos para ajudar o policial a voltar para casa saudável, a trabalhar com compromisso e a conduzir a vida profissional e pessoal da melhor forma possível”. É com essa frase que a nova comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal resume uma das mais importantes missões da corporação na atualidade. Desde que assumiu o cargo, no último dia 7 de fevereiro, a coronel Ana Paula Habka anunciou que a saúde mental dos servidores seria prioridade na sua gestão.
“Nossa profissão tem um nível elevado de estresse. Afinal de contas, a gente lida diretamente com a criminalidade e acaba vivenciando mais coisas ruins do que boas”, aponta a comandante. “O policial se vê como aquele que precisa resolver o problema, mas, às vezes, não vê que o problema também está presente nele. Por isso, a corporação tem trabalhado para se aproximar do servidor dentro das unidades, com nossa capelania, com os nossos médicos.”
A PMDF tem investido no aumento do quadro de especialistas da área da saúde mental. No momento, a corporação conta com um psiquiatra militar atuando internamente. A assistência é reforçada por um segundo profissional, cedido pela Secretaria de Saúde do Distrito Federal, e por mais cinco psiquiatras emprestados do Corpo de Bombeiros (CBMDF) que, desde o dia 19 de fevereiro, atendem policiais militares às segundas, quartas e sextas-feiras.
“Também temos uma rede credenciada com aproximadamente 100 psicólogos e psiquiatras particulares que atendem os PMs encaminhados pelo Caps [Centro de Assistência Psicológica e Social] do Departamento de Saúde”, informa o chefe do Departamento de Saúde e Assistência ao Pessoal da PMDF, coronel Waldeci Ramalho. “Estamos elaborando um acordo com o Sesc [Serviço Social do Comércio] para a contratação de dez psicólogos que vão atuar junto ao centro médico da PMDF.”
“Na corporação, observamos que os policiais começaram a quebrar antigos tabus, que colocavam o PM no papel de super-heróis inabaláveis”
Waldeci Ramalho, coronel
Em setembro, o quadro de profissionais que cuidam da saúde mental dos policiais militares voltará a ser ampliado. Um concurso público que está em andamento vai dar posse a três psiquiatras militares, além de outros dois para compor um cadastro reserva. “Também temos um edital pronto para a contratação de psicólogos, assistentes sociais e enfermeiros que irão atuar no centro médico e no Caps”.
O Centro de Atendimento Psicológico e Social, aliás, ganhará uma nova sede, no Setor Policial Sul com recursos da ordem de R$ 13 milhões. O prédio de 2.900 m² vai acomodar a unidade da corporação responsável por prestar assistência gratuita à saúde mental dos policiais militares e seus dependentes.
O antigo edifício do CAPS ocupava o mesmo terreno onde hoje é erguida a nova sede. Com mais de 40 anos de uso, porém, a estrutura do prédio estava comprometida. “Foi preciso demolir, não dava para reformar”, afirma a major da PMDF Ana Koffler. “A construção atual será mais moderna, cercada de muito verde, com espaço para atividades ao ar livre”. Enquanto não fica pronta, o efetivo do CAPS está alojado no Centro Médico da PMDF.
Tendência mundial
O cuidado com o bem-estar dos policiais militares parece óbvio – o estresse, o medo de perder a própria vida e a violência inerentes à atividade colocam esses profissionais em lugar de vulnerabilidade. A crescente preocupação dos PMs com a saúde mental, no entanto, segue uma tendência mundial já observada em toda a sociedade, desde a pandemia de covid-19.
“Todo o sofrimento causado pelo isolamento e pela perda de milhares de vidas impulsionou a busca por ajuda psicológica no mundo todo”, comenta o coronel Waldeci Ramalho. “A partir daí, a sociedade passou a ver os cuidados com a saúde mental com um olhar menos estigmatizado.”
O militar explica que a procura por acompanhamento psicológico ou psiquiátrico passou a ser normalizada. “Na corporação, observamos que os policiais começaram a quebrar antigos tabus, que colocavam o PM no papel de super-heróis inabaláveis”, observa. “Essa mudança de cultura se reflete no número de atendimentos registrados pela corporação nos últimos três anos”.
Em 2021, a PMDF computou 5.093 acompanhamentos psicólogos e 5.308 psiquiátricos. O número passou para 10.235 e 2.710, respectivamente, no ano seguinte. Já em 2023, foram 16.000 consultas com psicólogos e 3.269 com psiquiatras.
Com Agência Brasília