Localizado na América Central, El Salvador está chamando a atenção do mundo por causa de um plano controverso de combate ao crime, criado pelo presidente Nayib Bukele. Pessoas vão para a cadeia sem ordem judicial.
Taxa de assassinatos caiu drasticamente de 2015 até hoje em El Salvador — Foto: Fantástico
Por Fantástico
O Fantástico foi a El Salvador, país da América Central que acaba de reeleger Nayib Bukele para a presidência com mais de 80% dos votos, e está chamando a atenção do mundo por causa de um plano controverso de combate ao crime.
Desde os anos 90, o país – que já foi considerado um dos mais violentos do mundo – vivia sob o controle de gigantescas facções criminosas, chamadas em espanhol de “maras” ou “pandillas”. O auge da violência foi em 2015: 107 homicídios para cada 100 mil habitantes – como comparação, no Brasil, que também é um muito violento, esse número fica hoje em torno de 20.
O cenário começou a mudar em 2019, quando o atual presidente chegou ao poder e conseguiu reduzir os homicídios pela metade já nos primeiros dois anos de governo.
Segundo um jornal digital, que encontrou gravações e documentos comprometedores, a melhora nos números foi obtida fazendo acordos secretos com as facções. No entanto, em março de 2022, após uma onda de violência extrema, Bukele não buscou negociação e decretou um estado de exceção.
“No regime de exceção, são suspensos direitos e garantias em vários pontos: os critérios pra capturar suspeitos, o tempo que a pessoa pode ficar presa agora é indefinido, o acesso do preso a um advogado e os julgamentos, que passaram a ser coletivos”, explica Carlos Monterrosa, professor de sociologia da Universidade Centro-Americana.
El Salvador tem 6,3 milhões de habitantes. Desde que começou o regime, 78 mil pessoas foram presas – a maior porcentagem de encarceramento do mundo. Mas a a taxa de assassinatos, segundo o governo, caiu de 107, aquele número apavorante de 2015, para 2,4 em cada 100 mil habitantes.
“Aqui era uma zona muito perigosa. Não dava pra andar à noite, porque logo vinham perguntar o que a gente estava fazendo. Os jovens estão saindo mais de casa e se envolvendo, não com coisas ruins, mas com as coisas de Deus”, comemora uma moradora de Colônia Montreal, um bairro humilde da cidade de San Salvador.
Uma das ações – e símbolo do governo – é a criação de uma megaprisão de segurança máxima, com capacidade para 40 mil detentos. Ativistas dos direitos humanos estimam que pelo menos 21 mil presos sejam inocentes.
“A segurança melhorou muito. Nossos parentes de outros bairros conseguem nos visitar e nós podemos sair pra visitar a família, mas também sabemos que pessoas, talvez inocentes, estão pagando pelo que não fizeram”, pondera outra mulher do mesmo bairro.
O regime de exceção, que era para durar um mês, já está valendo há dois anos. O repórter Álvaro Pereira Júnior conversou com o ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bukele, que defendeu a medida:
“Não se deve satanizar o regime de exceção. Quem faz isso são as elites globalistas. Claro que qualquer polícia às vezes prende inocentes. Nós estamos mudando as leis para blindar El Salvadorcontra o crime organizado. Eu não queria estar na pele de outro presidente que entrasse e dissesse: ‘Ai, coitadinhos dos assassinos. Já passaram tempos demais presos, o cérebro deles mudou, não são mais criminosos’. Acontece que nós, salvadorenhos, não queremos mais bandidos nas nossas ruas”, diz Gustavo Villatoro.
*g1/Com o Fantástico
Foto de capa: AFP PHOTO / EL SALVADOR’S PRESIDENCY PRESS OFFICE