Encontro seria nesta terça; líderes dizem que Lira não foi chamado. Na segunda, presidente da Câmara disse que Orçamento não é só do Executivo e cobrou respeito às emendas.
Ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad será ministro da Fazenda do governo LulaImagem: Ton Molina/Fotoarena/Estadão Conteúdo
Por Alexandro Martello, g1 — Brasília
O confronto aberto entre Legislativo e Executivo sobre o controle do orçamento federal – agravado por discursos nesta segunda-feira (5) – levou ao cancelamento de uma reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e líderes partidários da Câmara dos Deputados nesta terça (6).
O encontro estava previsto para as 16h30, mas passou a constar como “cancelado” na agenda de Haddad no fim da manhã. Uma reunião similar entre Haddad com líderes no Senado seguia marcada.
Ao g1, interlocutores ligados ao governo e à Câmara afirmaram que, após as falas de Lira, não haveria “clima” para o debate da pauta econômica nesta terça. Segundo líderes, também pesou contra o encontro a falta de um convite para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).
Questionado na chegada ao Ministério da Fazenda, no início da tarde, Haddad disse que o pedido de adiamento da reunião veio do líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE). Sobre as falas de Lira, disse que “está tudo bem, vai dar tudo bem”.
Outros interlocutores do governo também “minimizam” o cancelamento da agenda. Segundo eles, parlamentares que estariam na reunião viajaram para suas bases a fim de acompanhar a entrega simultânea de unidades do Minha Casa, Minha Vida no Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Bahia.
O evento, que teve Lula em Magé (RJ) e Padilha em Santo Antônio da Posse (SP), esvaziaria a reunião, conforme fontes do governo.
Falas de Lira
Na segunda, ao discursar na abertura do ano legislativo, Arthur Lira enviou recados ao governo ao dizer que o Orçamento é de todos os brasileiros, não só do Executivo, e não pode ficar engessado por “burocracia técnica” e por quem não foi eleito.
O presidente da Câmara também disse que os parlamentares “não foram eleitos para serem carimbadores” das propostas do Executivo e que o Orçamento da União deve ser construído em contribuição com o Legislativo.
A crítica se dá em meio a um embate entre Executivo e Congresso em relação às emendas parlamentares.
O governo federal vetou, tanto na Lei de Diretrizes Orçamentárias quanto no Orçamento, trechos aprovados por parlamentares que ampliariam os recursos destinados pelo Congresso a suas bases eleitorais, além de acelerarem o pagamento por parte do Executivo.
“O Orçamento da União pertence a todos e todas e não apenas ao Executivo. Se assim fosse, a constituição não determinaria a necessária participação do poder Legislativo em sua confecção e final aprovação”, afirmou Lira na segunda.