Empresa não conseguiu cumprir o plano de recuperação judicial, sem expectativa de retomar a atividade. Patinetes foram ‘febre’ da Faria Lima, mas nunca conseguiram ter operação rentável.
— Foto: Aloisio Mauricio/Foto Arena/Estadão Conteúdo
Por Artur Nicoceli, Isabela Bolzani, g1
A Grow, empresa de aluguel de bicicletas e patinetes elétricos, teve falência decretada pela Justiça de São Paulo. A decisão é do juiz João de Oliveira Rodrigues Filho, da 1ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais, e foi publicada na última segunda-feira (6).
A sentença veio após a empresa afirmar que “por circunstâncias alheias à sua vontade”, não pode honrar com o cumprimento do plano de recuperação judicial e que não há expectativas de retomada da atividade.
Com a decisão, os credores terão seus direitos e garantias reconstituídos nas condições originalmente contratadas, deduzidos os valores pagos e ressalvados os atos praticados no âmbito da recuperação judicial.
Assim, para quitar parte das dívidas da companhia, o administrador judicial deverá avaliar e vender os bens da massa falida no prazo máximo de 180 dias, tendo que apresentar para o juiz um plano detalhado de realização dos ativos (conversão dos bens do devedor em dinheiro).
A Grow nasceu da fusão das empresas de mobilidade compartilhada Grin e Yellow, famosas pelas bicicletas sem estação e pelos patinetes elétricos que tomaram conta de grandes avenidas pelo Brasil entre 2018 e 2019 (veja abaixo). À época, ficou marcada pela presença massiva na Avenida Brigadeiro Faria Lima, berço do mercado financeiro de São Paulo.
Entenda a história da companhia
A Yellow foi fundada por Ariel Lambrecht, Eduardo Musa e Renato Freitas, em 2017.
Foi o primeiro serviço de compartilhamento de bicicletas em sistema “dockless”, que dispensava os pontos de estacionamentos específicos. As bicicletas ficavam bloqueadas nas calçadas, e o ciclista as desbloqueava por meio de um aplicativo de celular. O aplicativo lia o código de cada uma e o cadeado era aberto automaticamente. Dali em diante, o cronômetro calculava o preço, com base no tempo de viagem.
Na primeira fase, em agosto de 2018, foram colocadas em operação cerca de 500 bicicletas, com meta de chegar a 20 mil até o final daquele ano. Chegou ao auge da operação em 2019, mas desde o início a empresa teve dificuldades com furtos e manutenção do vandalismo de bicicletas.
Também em 2019, foi anunciada a fusão da Yellow com a mexicana Grin, formando a Grow. À época, a nova empresa dizia ter frota de 135 mil patinetes e bicicletas em 7 países da América Latina, além de 1.100 funcionários.
No início de 2020, a Grow anunciou o fim das operações de bicicletas compartilhadas no Brasil e afirmou que manteria os patinetes elétricos em apenas três cidades: São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
Na ocasião, a empresa afirmou que a decisão era “temporária” e que fazia parte de uma reestruturação da startup.
Meses depois, em março, a companhia foi adquirida pelo fundo de investimentos Mountain Nazca, dono da Peixe Urbano e outros empresas na América Latina, dizendo que o objetivo era tornar-se lucrativa e ter eficiência na operação — diferente do que foi feito em 2019, quando a prioridade foi expansão da atuação e crescimento do número de corridas e base de usuários.
O cenário de crise, no entanto, se agravou por conta da pandemia de Covid-19, uma vez que, sem a mobilidade diária das pessoas em meio ao isolamento social, a empresa precisou suspender suas operações.
Em julho do mesmo ano, a empresa entrou com o pedido de recuperação judicial.
*Colaborou Raphael Martins