Miguel Lucena
Ao analisar os discursos e as práticas das autoridades brasileiras sobre educação, a educadora Maria José Rocha Lima (Zezé), líder inconteste dos professores baianos, já identificava, nos anos 1990, que os mestres viviam a alegoria do pau de sebo – aquele mastro liso e escorregadio com um prêmio no topo, muitas vezes falso.
“A vida é um pau de sebo com uma nota falsa na ponta”, dizia o mestre potiguar Câmara Cascudo, historiador, sociólogo, musicólogo, antropólogo, etnógrafo, folclorista, poeta, cronista, professor, advogado e jornalista. Se tivesse se dedicado exclusivamente ao Magistério, ele teria acrescido a palavra professor depois de vida.
Eu fico curioso com essa luta titânica dos professores por um piso, estabelecido em 1827 por Dom Pedro I e nunca cumprido, como não está sendo cumprido nos últimos tempos, demonstra a pesquisa realizada pela mestre e doutora Maria José Rocha Lima, cuja têmpera foi forjada nas grandes marchas em defesa da Educação na Bahia e Brasil afora.
O piso era para ser a base, mas funciona como teto para uma grande parcela dos professores, os quais o perseguem sem alcançá-lo na prática, dado que no papel ele foi conquistado 196 anos atrás.
Muitos discursos depois, foi sancionada, em 16 de julho de 2008, a Lei 11.738, que instituiu o piso salarial profissional nacional para o Magistério Público da Educação Básica, regulamentando dispositivo constitucional (Art. 60, III, “e”, do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal), mas a luta continua para que os municípios cumpram a lei, com prefeitos tendo a ousadia de realizar marchas para alegar a impossibilidade de fazê-lo.
Esperamos que estudos como a tese defendida nesta obra contribuam para que, ao final, o pau de sebo do Estado brasileiro não traga na ponta uma nota falsa de engano e ilusão.
*Prefácio ao e-book Estudos e Pesquisas – Partidos Políticos e piso salarial do Magistério baiano: no discurso e na prática, de autoria da professora Maria José Rocha Lima – Zezé.