Arnaldo Niskier
Da Academia Brasileira de Letras
Filho do político Apolônio Salles, Mauro Salles destacou-se (e muito) em dois campos de atividades: a publicidade e o jornalismo. Foi repórter de O Globo e chegou a diretor de redação. Orgulhava-se de ter permanecido 11 anos na empresa de Roberto Marinho, de quem se tornou um bom amigo. Foi peça fundamental no lançamento da TV Globo. Ele agora desapareceu, de causas naturais, com a idade de 90 anos.
Dirigiu até 1996 o humorístico “Câmara Indiscreta”. Nesse ano deixou a empresa para fundar a Mauro Salles Publicidade, que se tornou uma das principais organizações de propaganda do país. Nessa condição dirigiu a campanha de Tancredo Neves à presidência da República, com muito sucesso, além de ter exercido a presidência da Associação Brasileira de Propaganda (ABP) e da Federação Brasileira de Publicidade. Ganhou muitos prêmios como publicitário, entre eles o “publicitário da década”, em 1981. Foi um dos responsáveis pela criação do Código de Ética da profissão.
Tenho dele saudáveis recordações. Uma delas foi o convite para escrever em conjunto com Antônio Carlos de Almeida Braga e Joaquim Falcão um livro biográfico sobre Roberto Marinho. Fizemos o trabalho com muito prazer e a sua repercussão não poderia ter sido melhor. Foi a forma que encontramos de homenagear o grande capitão da indústria.
Nesse livro pude assinalar: “Roberto Marinho era o maestro daquele belo concerto. Através dos espetáculos ao ar livre do Projeto Aquarius e dos concertos exibidos pela TV Globo dava a sua contribuição para elevar o nível cultural do povo brasileiro. No período de trevas da nossa história, Roberto Marinho sempre teve em mente a máxima de Henry Peter Brougham: “A educação torna as pessoas fáceis de serem lideradas, mas não dominadas.” Mauro Salles foi um eficiente colaborador, para que Roberto Marinho pudesse cumprir a sua missão pedagógica, da qual não abria mão.
Mauro Salles gostava de repetir a frase irônica do presidente da Universidade de Harvard, Derek Bok: “Se acham que a educação é cara, tentem a ignorância.” Ele se associou a Roberto Marinho nessa ideia.