Estudo do IBGE feito no ano passado mostrou pontos de desigualdade entre pessoas pobres no mercado de trabalho, moradia e segurança pública
Agência estado
No ano passado, a proporção de pessoas pobres no país entre brancos era de 18,6%, contra 34,5% e 38,4% entre pretos e pardos, aponta a 2ª edição do estudo “Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil”,’ do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e publicada nesta sexta-feira (10/11).
Em 2020, o IBGE considera a linha do Banco Mundial que definiu que pobreza e extrema pobreza. Aqueles que vivem com até US$ 5,5 por dia são considerados pobres, já aqueles que vivem com até US$ 1,9 por dia estão na faixa da extrema pobreza.
Além disso, o levantamento mostra que a taxa de desocupação entre pretos (16,5%) e pardos (16,2%) também foi superior à dos brancos (11,3%). No mesmo período, esse índice foi de 16,5% para a preta e 16,2% para a parda.
As taxas de subutilização dessas populações foram 32%, 33,4% e 22,5%, respectivamente. A informalidade da população ocupada era 40,1% no ano passado, sendo 32,7% para os brancos, 43,4% para os pretos e 47% para os pardos.
O cabeleireiro Lucio Matias contou que sentiu diferença quando saiu de São Paulo para morar no Rio de Janeiro. “Aqui, a diferença entre as classes sociais para pretos e brancos é muito forte. Há ambientes, como restauranres que a elite frenquenta, que, se um cara como eu entra, o olhar é diferente”, contou.
“Vamos ser honestos, hoje, estamos tendo inclusão, pois as empresas e as universidades são obrigadas, por lei. Mas só isso não adianta. Temos de nos apoiar, nós, pretos. Não adianta ligar uma câmera e militar. Isso tem de acontecer nos bastidores e de forma verdadeira. Não adianta só cobrar a sociedade”, completou Matias.
O cantor moçambicano Guilherme Silva, que vive no Brasil há mais de 10 anos, contou que se considera um privilegiado devido à condição financeira, mas já passou por situações embaraçosas. “Há lugares em que eu vou tocar e, quando determinado convidado me vê, não pensa que sou eu vou cantar, e me comprimenta de uma jeito diferente. Quando sou apresentado pelo anfitrião do local, o tratamento muda, parece que deixo de ser preto e me torno laranja ou até branco”, afirmou.
Renata Camargo, consultora em comunicação inclusiva e CEO da BlackID Comunicação, explica que a comunicação é fundamental para mudar esse panorama de desigualdade social entre brancos, pretos e pardos. “Não adianta abrir vagas afirmativas, se dentro das empresas, a cultura não é inclusiva”, ressaltou.
“Imagina uma pessoa preta que entra em uma empresa onde seus colegas são, em sua maioria, brancos e se depara com piadas, com linguajar inadequado. A pessoa não fica. Olha a pesquisa: essas pessoas têm toda uma vivência de vulnerabilidade social”, explicou Renata.
“Cargos de liderança são ainda mais difíceis, pois, primeiro, a pessoa precisa de uma boa formação, o que só ocorre de uns anos para cá, e segundo, recrutadores, gerentes e CEOs são brancos. Não é comum imaginar que pretos estão em cargos de chefia”, completou.
Salários e cargos
As desigualdades sociais no mercado de trabalho também se refletem no rendimento médio dos trabalhadores. Os brancos receberam, em média, R$ 3.099 no ano passado, superando pretos em 75,6% (R$ 1.764) e pardos em 70,8% (R$ 1.814).
Mais da metade dos trabalhadores, 53,8%, eram pretos ou pardos, mas esses grupos, somados, ocupavam apenas 29,5% dos cargos gerenciais. Já os brancos estavam em 69% desses postos.
Moradia e propriedade
O mesmo grupo de pretos e partos enfrenta insegurança na posse da moradia. Cerca de 20,8% das pessoas pardas e 19,7% das pessoas pretas residentes em domicílios próprios não tinham documentação da propriedade. A proporção entre os brancos era de 10,1% na mesma situação.
Em 2017, segundo o Censo Agro, mostrou que, entre os proprietários de grandes estabelecimentos agropecuários (mais de 10 mil hectares), 79,1% eram brancos. Apenas 17,4% eram pardos, e 1,6%, pretos.
Segurança pública
Além disso, pessoas pretas e pardas morreram mais de forma violenta do que brancas em 2020. Houve 49,9 mil homicídios no país, ou 23,6 mortes por 100 mil habitantes.
Entre as pessoas brancas, a taxa foi de 11,5 mortes por 100 mil habitantes. Entre as pessoas pardas, a taxa foi de 34,1 mortes por 100 mil habitantes e, entre as pessoas pretas, foi de 21,9 mortes por 100 mil habitantes. (Metrópoles)