As sanções foram feitas usando leis britânicas destinadas a incentivar o Irã a cumprir a respeitar os direitos humanos
Forças de segurança do Irã intensificaram a repressão aos protestos contra o governo em várias cidades da região do Curdistão nesta segunda-feira (10), mostram fotos e vídeos nas redes sociais, aumentando ainda mais a pressão contra as manifestações que varrem o país há quase um mês. Em paralelo, autoridades do país viraram novo alvo do Reino Unido, que proibiu viagens e prometeu congelar bens em território britânico de oficiais iranianos.
Espalhados por todo o Irã, os atos liderados por mulheres começaram após a morte sob custódia policial de Mahsa Amini, uma jovem curda de 22 anos que havia sido presa por não usar corretamente o “hijab”, o véu islâmico. As manifestações são um dos maiores obstáculos que o regime enfrenta desde sua fundação, em 1979.
As tensões são especialmente altas entre as autoridades e a minoria curda, que é oprimida há muito tempo, segundo grupos de direitos humanos -o governo nega a acusação. O Curdistão é uma região autônoma localizada parcialmente dentro do Irã, com cerca de 10 milhões de habitantes, 12% da população do país.
Há nesta segunda uma forte presença de policiais armados nas cidades curdas de Saqez e Divandareh, segundo o grupo de direitos humanos Hengaw. Na província de Saqez, local de nascimento de Amini, manifestantes e policiais entraram em confronto, e diversas explosões foram ouvidas em Sanandaj, capital da província do Curdistão, de acordo com vídeos compartilhados no Twitter.
Apesar da dura repressão, manifestantes em todo o Irã queimaram fotos do líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei, pediram a queda do regime e gritaram “morte ao ditador”. Centenas de meninas do ensino médio e estudantes universitários se juntaram aos protestos em todo o país, enfrentando gás lacrimogêneo, cassetetes e, em muitos casos, munição real usada pelas forças de segurança. Teerã negou que munição de verdade tenha sido empregada.
“Ei, mundo, me escute: eu quero uma revolução. Eu quero viver livremente e estou pronto para morrer por isso”, disse um manifestante de 17 anos em uma cidade na região central do país , cujo nome e localização não podem ser revelados por segurança. “Ao invés de morrer a cada minuto sob a repressão deste regime, prefiro morrer com suas balas (das forças de segurança) em protestos pela liberdade.”
Ao menos cinco curdos foram mortos e mais de 150 ficaram feridos nos protestos desde sábado (8), informou o grupo de direitos humanos Hengaw. Pelo menos 185 já morreram desde o início das manifestações, centenas ficaram feridos e milhares foram presos pela polícia, informaram grupos de direitos humanos. O governo relata a morte de 20 policiais até agora.
Nesta segunda, o Reino Unido aplicou sanções contra funcionários de alto escalão da segurança iraniana e também contra a totalidade do efetivo da polícia moral -responsável pela prisão de Amini-, afirmando que a força usa ameaças de detenção e violência para controlar o que as mulheres vestem e como elas se comportam em público.
“Essas sanções enviam uma mensagem clara às autoridades iranianas –nós os responsabilizaremos por sua repressão a mulheres e meninas e pela violência chocante que infligiu ao seu próprio povo”, disse o secretário de Relações Exteriores britânico, James Cleverly, em um comunicado. Na semana passada, a pasta já havia convocado o diplomata mais importante do Irã no Reino Unido para tratar da repressão aos protestos.
As sanções foram feitas usando leis britânicas destinadas a incentivar o Irã a cumprir a respeitar os direitos humanos. Elas significam que os indivíduos nomeados não podem viajar para o Reino Unido e qualquer um de seus bens mantidos por lá será congelado. Entre outros, as punições atingem o chefe da polícia moral, Mohammed Rostami Cheshmeh Gachi, e o chefe da divisão de Teerã, Haj Ahmed Mirzaei.