Em artigo publicado neste domingo (5), o New York Times analisa o primeiro turno das eleições brasileiras para presidente, onde Dilma Roussef, que ocupa o cargo atualmente, surgiu como a favorita em um das eleições mais disputadas desde que a democracia foi restabelecida no país. No entanto, na primeira fase da corrida presidencial, a presidente não conseguiu a maioria dos votos, abrindo o caminho para o segundo turno com Aécio Neves que, segundo o New York Times, “é herdeiro de uma família poderosa politicamente, com tendências a favor do mercado financeiro”.
O New York Times destaca que “a forte presença de Aécio Neves, senador do estado de Minas Gerais permitiu que ele superasse Marina Silva”, que aparecia em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos. No entanto, a postura de líder ambientalistas e a posição de destaque nas pesquisas de setembro não foram o suficiente e a candidata, que parecia a maior ameaça a candidatura de Dilma Roussef, foi eliminada no primeiro turno.
As apurações apontaram que Dilma conseguiu 41,5% dos votos contra 33,7% de Aécio Neves, enquanto Marina Silva teve 21,3%, já com 99% dos votos apurados.
Enquanto Aécio, durante sua campanha, criticou o escândalo da Petrobras. O episódio envolveu um ex-executivo e “acabou revelando um enorme esquema de superfaturamento destinado a apoiar figuras na aliança de governo de Dilma”.
No entanto, a ênfase dada, durante a campanha da presidente Dilma, em proteger as conquistas do governo, sem perder tempo em ataque, ajudou a fortalecer a campanha nos últimos dois meses Muitos eleitores começaram a demonstrar preocupação de que os rivais de Dilma pudessem desmontar a rede de programas do governo de combate a pobreza, que começou após a entrada do PT no governo.
“Em uma eleição cheia de mudanças repentinas, a campanha se alterou em agosto, quando Eduardo Campos, candidato a presidência e ex-governador de Pernambuco, foi morto em um acidente de avião”, relembra o New York Times. Com a morte de Eduardo Campos, Marina Silva ocupou o seu lugar na candidatura a presidência pelo PSB e grande parte das pesquisas de intenções de voto, já a apontavam como vencedora.
No entanto, alguns equívocos durante a campanha tiraram Marina Silva da liderança, como bem lembra o artigo do New York Times. “ O retrocesso no apoio ao casamento igualitário e as descrições vagas sobre como ela poderia mudar as instituições brasileiras, semeou a confusão entre os eleitores e Marina perdeu terreno enquanto a eleição foi se aproximando”, afirma o artigo.
“De todos os candidatos, Marina é a única que realmente representa uma renovação”, disse Carlos Alberto Ferreira, 62 anos, um aposentado que trabalha como guarda de segurança em um estacionamento para suplantar sua renda de aposentadoria insuficiente. “Ela fala diretamente ao povo’, afirmou o aposentado em entrevista para o NYT.
Segundo o artigo, Aécio só se tornará um desafio mais sério para Dilma, se começar a atrair os eleitores de Marina Silva. No entanto, o NYT destaca que Aécio enfrenta desconfianças dos eleitores mais pobre e problemas de corrupção do PSDB, incluindo aí o escândalo da fixação de preços nos contratos de fornecimento de equipamentos do metrô de São Paulo.
A corrida entre Dilma, uma ex-guerrilheira de esquerda, e Aécio Neves, cujo avô foi eleito presidente em 1985, mas adoeceu e morreu antes que ele pudesse assumir o cargo, sugere que a polarização que “pode se tornar mais aguda”, segundo NYT. Os dois representam ideologias rivais, com Dilma cortando o capitalismo do Estado e o Aécio Neves alegando que o papel do Estado na economia deve ser reduzido. Em uma declaração dada por Fernando Henrique, ex-presidente e apoiador da campanha de Aécio Neves, disse “cruamente” aos repórteres no domingo sobre o novo papel de Marina Silva, e que precisa acontecer agora, se o seu partido quiser derrubar Dilma: “Marina precisa vir para o nosso lado”.