João Lourenço, atual líder de Angola, tomou posse em uma Luanda repleta de militares, de seu segundo mandato de cinco anos
MAYARA PAIXÃO
GUARULHO, SP
João Lourenço, atual líder de Angola, tomou posse nesta quinta-feira (15), em uma Luanda repleta de militares, de seu segundo mandato de cinco anos à frente da Presidência da nação lusófona.
Fechada para o público, a cerimônia consolidou a trajetória do MPLA no poder, ininterrupta desde a independência, em 1975, e fez naufragar as tentativas da oposição, que alegou fraude e desrespeito ao processo eleitoral, mas teve seus questionamentos frustrados na Justiça.
Com o desafio de se desvencilhar da hegemonia do petróleo, diversificar a economia e elevar índices de bem-estar social, que ainda patinam, Lourenço repediu em seu primeiro discurso partes da fórmula que adotou em 2017, a primeira vez em que foi eleito.
O angolano prometeu concentrar atenções no setor social e na oferta de produtos que sejam produzidos no próprio país, considerável desafio para a nação de 34 milhões de habitantes que basicamente exporta matérias-primas e importa bens de consumo.
Nas ruas, a forte presença militar foi apontada por locais e ativistas como uma prática de intimidação. Tem sido assim desde o início do mês, quando as Forças Armadas anunciaram um “estado de prontidão combativa” até a próxima terça-feira (20), para prevenir o que chamam de incidentes pós-eleições, sobretudo na capital.
Agências de notícias relataram repressão a manifestações contrárias ao governo e detenções de pessoas que concederam entrevistas críticas a João Lourenço e à maneira como o processo eleitoral se desenrolou. Especialistas, antes mesmo do pleito ocorrer, apontavam que o uso da máquina pública pelo governo tornava desleal a competição.
À portuguesa Lusa Francisco Furtado, ministro de Estado e chefe da segurança do presidente, disse que a presença do Exército serve para proteger o povo, não intimidar. E acusou a oposição de ter um plano de subversão para derrubar o governo com base em ajuda externa.
“Notamos há dois anos que havia uma estratégia de subversão da ordem, e é por estes aspetos que as forças têm de estar em prontidão”, afirmou. “Qualquer nação só vale aquilo que for capaz de defender-se”.
Se alardeou críticas aos resultados do pleito, que asseguraram 124 cadeiras em um Parlamento de 220 assentos para o MPLP, a Unita, que ficou com a fatia de 90 lugares -maior cifra histórica da oposição-, agora é acusada por ativistas e movimentos sociais de resignação.
O partido liderado por Adalberto Costa Júnior por mais de uma vez disse que não reconhece os resultados eleitorais e não compareceu à posse de JLo, como é conhecido o presidente, mas, contrariando o que pleiteava parte dos eleitores, anunciou nesta quarta (14) que vai empossar seus 90 políticos eleitos para a Assembleia Nacional.
Costa Júnior, em entrevista coletiva, disse que uma ampla consulta no partido concluiu que a “resistência” seria mais efetiva no seio das instituições de Estado do que fora delas e que essa seria a melhor opção para lutar por maior democratização nas próximas eleições.
O partido é um dos que apoia a manifestação marcada para o próximo dia 24, a primeira grande mobilização contra o que os opositores chamam de fraude eleitoral, e promete seguir questionando na Justiça os resultados, ainda que o Tribunal Constitucional tenha negado, na última semana, um recurso da sigla para revisar o pleito.
Falando a repórteres, Costa Júnior disse que JLo tomaria posse de um “poder auto-atriuído” e de “legitimidade questionável”, consumando um “golpe de força”.
Ainda que, nos números oficiais, tenha levado 51,17% dos votos, o MPLA sofreu derrotas em áreas importantes, sendo Luanda a principal. Na província costeira, 62,25% dos votos foram para a Unita, contra 33,62% para a sigla governista, e o restante para legendas menores.
A participação geral foi de apenas 44,82% dos mais de 14 milhões de eleitores. A cifra, no entanto, não é considerada acurada, uma vez que as listas eleitorais, desatualizadas, contavam inclusive com nomes de cidadãos que já morreram. (FolhaPress)