Este convite deve mostrar que a “comunidade de democracias” não se reduz ao “Ocidente e aos países do Hemisfério Norte”
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Ao convidar cinco países emergentes, entre eles Argentina, África do Sul e Índia, o G7, reunido na Baviera, quer ampliar a frente das democracias contra Moscou e Pequim.
Os líderes da Argentina, Índia, Senegal, Indonésia e África do Sul e o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, somaram-se nesta segunda-feira (27) à tarde às negociações, no Castelo de Elmau, próximo aos Alpes bávaros.
Para o anfitrião da cúpula, o chanceler alemão Olaf Scholz, este convite deve mostrar que a “comunidade de democracias” não se reduz ao “Ocidente e aos países do Hemisfério Norte”. “As democracias do futuro estão na Ásia e na África”, afirmou o líder alemão, antes da cúpula.
Em um G7 dominado pela guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas também pelas crises climática e alimentar, “dialogar com esses países essenciais”, que têm “papéis de líderes regionais”, é algo “positivo”, explicou à AFP Thorsten Brenner, diretor do centro de análise Global Public Policy Institute (GPPI).
Países cortejados
“O G7 deve fazer compreender que, embora seja a guerra da Rússia e não as sanções o que contribui aos problemas de segurança alimentar mundial, o Ocidente por sua vez deve assumir a responsabilidade de avançar a segurança alimentar nos países mais vulneráveis”, acrescentou Brenner.
Pela manhã, o G7 fez um novo apelo à Rússia para que permita a “livre circulação” grãos bens procedentes da Ucrânia.
No entanto, este convite aos países que somam mais de 1,7 bilhão de habitantes obedece a outros desafios estratégicos, cinco meses depois da invasão russa à Ucrânia.
O G7 deseja, na verdade, atrair para seu campo Índia, Senegal e África do Sul, que se abstiveram durante o voto de uma resolução da ONU condenando o ataque russo.
Esses países também são cortejados por Vladimir Putin, que defendeu em 22 de junho um reforço dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e um vínculo maior com países da Ásia, África e América Latina.
Portanto, a Rússia “redireciona ativamente seus fluxos comerciais e seus contatos econômicos externos com aliados internacionais confiáveis, principalmente com os países dos Brics”, afirmou Putin, que citou como exemplo “negociações para a abertura de redes de lojas indianas na Rússia”.
A Índia, por sua vez, busca um equilíbrio difícil entre as relações que mantém com o Ocidente, por um lado, e por outro com a Rússia, que lhe fornece grande parte de suas necessidades em armas e energia, tudo isso em um contexto de rivalidade entre Nova Délhi e Pequim.
Olhares diferentes
Índia, Senegal e África do Sul acrescentaram sua assinatura a uma declaração do G7 sobre os valores democráticos, que busca especialmente fazer “respeitar a integridade territorial e a soberania de outros Estados” ao mesmo tempo em que se opõe “à ameaça ou ao recurso à força”.
“Sobre a guerra na Ucrânia, temos olhares diferentes, sabemos disso. Portanto, é importante que falemos juntos e que troquemos nossos respectivos pontos de vista”, destacou Scholz após o encontro.
O G7 lançou, por iniciativa dos Estados Unidos, um vasto programa de investimentos, destinado a mobilizar 600 bilhões de dólares até 2027, com destino a países em desenvolvimento, o que é uma resposta às enormes obras financiadas pela China. A Indonésia também ocupa um lugar especial, com sua presidência do G20 este ano.
O chefe de Estado indonésio, Joko Widodo, viajará em breve para Ucrânia e Rússia. Também receberá em novembro uma cúpula do G20 para qual Putin está convidado, apesar da pressão do Ocidente para excluir a Rússia do grupo pela invasão da Ucrânia.
A Indonésia, no entanto, resistiu alegando que sua posição de anfitriã a obriga a ser “imparcial”, segundo Joko Widodo, que também convidou o presidente ucraniano Volodimir Zelensky.
Os ocidentais concordaram que a eventual presença do presidente russo não deve colocar em dúvida sua própria participação, como afirmaram a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o próprio Scholz, que descartaram a ideia de um boicote.
“O G20 é muito importante para os países emergentes para que deixemos que Putin o destrua”, destacou Von der Leyen.
Se os líderes ocidentais comparecerem a Bali, seria seu primeiro encontro físico com o presidente russo desde a invasão da Ucrânia por Moscou, em 24 de fevereiro.
© Agence France-Presse