Uma dupla de médicos curitibanos que trabalha no Miami Transplant Institute (MTI), da Universidade de Miami, tem vindo ao Brasil atender clientes capazes de pagar por operações que expandem o conceito de alta complexidade.
Pacientes considerados inoperáveis por renomados cirurgiões no País têm conseguido passar por procedimentos que desafiam os limites da medicina sem precisar viajar ao exterior. Uma dupla de médicos curitibanos que trabalha no Miami Transplant Institute (MTI), da Universidade de Miami, tem vindo ao Brasil atender clientes capazes de pagar por operações que expandem o conceito de alta complexidade.
O médico Rodrigo Vianna vive nos Estados Unidos há duas décadas e dirige o MTI, o maior centro transplantador dos Estados Unidos. Especializado em abdome, ele tem em sua equipe o colega Tiago Machuca, conhecido por ser um dos melhores cirurgiões de tórax dos EUA. Ambos firmaram uma parceria com a Rede D´Or e são acionados sempre que um caso quase impossível surge em um dos hospitais de elite da empresa.
No cotidiano da medicina, muitas pessoas que poderiam ser beneficiadas pela extração de um câncer acabam não sendo operadas por causa do risco cirúrgico. Isso ocorre quando o tumor está localizado em uma área de difícil acesso ou chega a invadir um vaso sanguíneo importante, o que acarreta risco de hemorragia e morte durante o procedimento. Nessas situações, a expertise de Vianna e Machuca é requisitada.
“O que fazemos pode ser chamado de cirurgia de ultracomplexidade, uma mistura de transplante com cirurgia oncológica”, afirma Vianna. “É a união de duas especialidades porque é preciso retirar órgãos, extrair o tumor e fazer anastomose (religação) de vasos.” É um tipo de operação que exige do médico excelente treinamento vascular e oncológico. “Como é praticamente uma nova especialidade, é muito difícil encontrar profissionais com experiência nas duas coisas”, diz.
AUTOTRANSPLANTE. Nos EUA, a equipe do MTI é conhecida por realizar autotransplantes em pacientes com câncer. Quando o caso é considerado inoperável por conta do risco cirúrgico, os médicos extraem os órgãos afetados. Eles são resfriados e colocados em uma solução de preservação. O tumor é retirado do corpo ou dos órgãos extraídos e são devolvidos ao paciente.
Há dois meses, o empresário Washington Ney Barbosa, 65 anos, dono de uma marca de calçados femininos, entrou no centro cirúrgico do Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, para tentar eliminar um tumor de 5 centímetros que havia crescido no interior da veia mesentérica superior, responsável por drenar o sangue do intestino. Vianna explicou que, talvez, o autotransplante fosse inevitável.
Diagnosticado há 15 anos com câncer de pâncreas do tipo neuroendócrino (o mesmo que matou o empresário Steve Jobs), Barbosa havia extraído vários órgãos em cirurgias de abdome anteriores (pâncreas, baço, vesícula, duodeno, parte do estômago e do intestino). Depois de ser considerado inoperável, decidiu tentar o procedimento proposto por Vianna.
“Não tinha mais a quem recorrer em São Paulo”, afirma o empresário. “O cirurgião ficou horas cavucando meu abdome, fazendo de tudo para extrair o tumor da veia sem precisar retirar o intestino”, diz Barbosa. “Felizmente, ele conseguiu e minha recuperação foi ótima.” Uma semana depois, o empresário recebeu alta.
Ele e o cirurgião não revelam o preço da cirurgia, mas Barbosa diz ter gasto cerca de R$ 200 mil apenas para pagar a parte hospitalar. Segundo o médico, uma cirurgia ultracomplexa, com autotransplante, custa entre US$ 300 mil e US$ 500 mil nos Estados Unidos.
PULMÃO. No Rio, o médico Tiago Machuca, professor de cirurgia da Universidade de Miami, enfrentou outro caso inoperável: o da paciente Alcyette Cristina Garcia Piedade, de 62 anos, no Hospital Copa Star. Médica e ex-fumante, ela começou a sofrer, em 2017, de um grave enfisema.
Depois de passar por cirurgias e complicações, ela quase precisou ser colocada na lista de transplante. Em novembro do ano passado, surgiu um nódulo no pulmão direito que nenhum profissional ousou avaliar. “Precisava de uma biópsia para saber se estava com câncer, mas ninguém queria enfiar uma agulha em um pulmão cheio de cicatrizes porque isso seria muito arriscado”, conta Alcyette.
A médica procurou especialistas e a solução apresentada foi fazer radioterapia para tentar combater um tumor que ninguém sabia se era maligno. Em vez disso, ela procurou Machuca, que veio de Miami para atendê-la no Rio. “Sempre perguntava aos médicos se o meu caso era o pior que já haviam visto. Quando ele disse que tinha operado casos mais complicados que o meu, me senti acolhida”, diz ela.
A cirurgia foi realizada no final de março. Machuca removeu cerca de 40% dos lobos superiores do pulmão e, também, o nódulo suspeito. Três meses depois, o volume do órgão voltou ao normal. Houve também 30% de melhoria da função pulmonar. “Ela deixou de ter uma limitação funcional severa para alcançar uma qualidade de vida próximo do normal”, afirma Machuca.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.