A reportagem entrou em contato com mais de 20 estabelecimentos e apenas quatro informaram que já deram início à vacinação contra a Covid
Isabella Menon Mariana Moreira, José Matheus Santos, João Pedro Pitombo, Mauren Luc, Caue Fonseca, Leonardo Augusto
Rio de Janeiro, RJ, Recife, PE, Salvador, BA, Curitiba, PR, Porto Alegre, RS, Belo Horizonte, MG e São Paulo, SP
Enquanto São Paulo e Rio de Janeiro já iniciaram a imunização contra a Covid na rede particular, em clínicas e farmácias, em outras capitais brasileiras o setor ainda aguarda uma regulamentação mais clara sobre o tema e um aumento do número de interessados antes de encomendar o primeiro lote.
Na capital paulista, clínicas privadas têm adotado diversas políticas para vacinar contra a Covid-19. A imunização nesses locais começou no início do mês.
A reportagem entrou em contato com mais de 20 estabelecimentos e apenas quatro informaram que já deram início à vacinação contra a Covid —alguns já possuem o imunizante, mas ainda aguardam formar um grupo com dez interessado para abrir um frasco da vacina.
É possível encontrar diferentes instruções para a aplicação do imunizante. Na Clivan, clínica localizada na Pompeia (zona oeste), qualquer pessoa acima de 18 anos é elegível para receber a quarta dose sem apresentação de receita médica —o estabelecimento apenas exige quatro meses de intervalo da terceira dose.
Já o Vacinar, no Brooklin (zona sul), segue as orientações do Ministério da Saúde e vacina com a segunda dose apenas pessoas acima de 50 anos. Como a Folha revelou, a pasta deve anunciar na próxima semana a ampliação da medida para pessoas a partir de 40 anos de idade.
Laboratórios, como o Fleury e os do grupo Dasa, ainda não possuem o imunizante.
Entre as farmácias, a vacina é encontrada na Drogaria São Paulo. As unidades de Moema (zona sul) e Sumaré (zona oeste) informam que a busca tem sido realizada, principalmente, por pessoas acima de 50 anos. Já a unidade da Paulista afirma que 32 pessoas foram imunizadas no último fim de semana, e a procura foi, principalmente, entre quem tem entre 18 e 49 anos.
Jamal Suleiman, infectologista do Instituto Emílio Ribas, não enxerga a possibilidade de a vacinação engatar na rede privada neste momento.
“As vacinas são as mesmas que a rede pública”, diz ele. “Por que eu trocaria um lugar onde eu recebo a vacina gratuitamente por outro em que tenho que pagar?”
No fim de maio, a Abvac (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas) estimou que o preço do imunizante ficaria entre R$ 300 e R$ 350 reais para o consumidor, devido a custos com logística e armazenamento.
No estado, 94% da população elegível para a imunização, acima de cinco anos, já completaram o ciclo vacinal básico —com duas doses ou dose única. Até esta quinta-feira (16), já foram aplicadas 31 milhões de doses adicionais —o número soma tanto terceira quanto quarta dose.
Geraldo Barbosa, presidente da Abcvac, analisa que a vacinação, em geral, tem sofrido uma queda e compara a situação com a da vacina da gripe. “Estamos em um período de frio e não alcançamos nem 50% da cobertura da influenza”, diz ele, que também atribui a demanda menor à falta de incentivo e publicidade do Ministério da Saúde.
Outro fator para a baixa procura é a crise econômica. “Toda vez que têm um aperto, as pessoas postergam o investimento em proteção.”
Para Barbosa, com a nova alta de casos de Covid, o mercado privado poderia estar auxiliando na celeridade da vacinação. Mas, sem um posicionamento claro do ministério, há “uma insegurança para o investidor e a clínica, porque não há uma regra clara de quem vai poder usar”.
“Acabamos usando o mesmo regramento do serviço público, o que nunca foi a lógica do serviço privado, que sempre serviu para complementar e acelerar a vacinação”, explica.
No Rio de Janeiro, a procura por vacina nas farmácias da cidade é considerada moderada pelos profissionais que atendem grandes redes. Em uma loja Pacheco da avenida Nossa Senhora de Copacabana, pelo menos uma vacina contra o vírus influenza é aplicada por dia, e a busca chega a ser de dez clientes por loja, segundo a farmacêutica responsável.
Já a aplicação contra Covid soa como novidade entre os atendentes, e a recomendação dos profissionais têm sido a ida ao posto de saúde.
Em Belo Horizonte, as principais clínicas que atuam no setor de imunização não trabalham, ao menos até o momento, com a vacina para o coronavírus. A justificativa dada em uma delas é que o SUS (Sistema Único de Saúde) já fornece o imunizante contra a doença.
A Abcvac, no entanto, afirma que ao menos três clínicas na capital mineira já possuem e aplicam doses da vacina, mas não especificou quais. A reportagem entrou em contato com a Drogaria Pacheco localizada no centro de Belo Horizonte, que informou que possui o imunizante.
No Recife, cujo estado atingiu uma das mais altas taxas de ocupação de UTIs no país na semana passada, de 72%, a vacinação contra a Covid-19 não acontece nas principais redes de farmácia e laboratório. Os estabelecimentos aplicam apenas imunizantes contra a gripe. O cenário é similar na região metropolitana do Recife.
O Sincofarma-PE (Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de Pernambuco) atribui a ausência de vacinação contra a Covid nas farmácias a exigências específicas da vigilância sanitária para instalações de vacinação nesses estabelecimentos.
“Por enquanto, só quem está conseguindo é via liminar [na Justiça]. Eles [da vigilância] não entenderam que isso é um serviço prestado”, afirma Ozeas Gomes, presidente do sindicato. “Estamos negociando”, diz.
A vacinação para Covid-19 na rede privada também não avançou na Bahia. A reportagem consultou três redes de farmácias e dois laboratórios privados que informaram que ainda não estão oferecendo o serviço no estado.
Na rede pública, por outro lado, a busca pelas terceira e quarta doses da vacina cresceu desde a última semana com a alta no número de casos de Covid no estado. Pontos de vacinação enfrentavam longas filas na terça-feira (14), caso do 5º Centro de Saúde Clementino Fraga, nos Barris, em Salvador.
Em Porto Alegre, a vacina contra o coronavírus não está sendo comercializada em redes de farmácias. Em uma das principais delas, a Panvel, ainda não há previsão de chegada do imunizante.
A única clínica de Porto Alegre contatada que afirmou que oferecerá o imunizante é a MDC Vacinas. Ela está realizando um cadastro de interessados desde o início do mês e está prestes a atingir os cem interessados mínimos para fazer o primeiro pedido.
Conforme a clínica, os maiores interessados são pacientes acamados com dificuldade de obter a vacina em domicílio pela rede pública e pessoas imunizadas com a Coronavac, que pretendem viajar ao exterior e têm receio de não ter a vacinação aceita.
Em Curitiba, a Secretaria Municipal de Saúde não recebeu nenhuma solicitação de serviços privados de vacinação (farmácias ou clínicas) para aplicação de doses contra Covid-19.
Para disponibilizar a vacina é preciso autorização prévia da Divisão de Imunobiológicos da pasta, “para farmacovigilância e o registro de doses aplicadas”, informou a prefeitura, em nota. (FolhaPress)