As companhias aéreas Gol, do Brasil, e Avianca, da Colômbia, anunciaram a criação de uma holding que vai controlar às duas empresas
Ainda em meio a maior crise da história da aviação, as companhias aéreas Gol, do Brasil, e Avianca, da Colômbia, anunciaram na quarta-feira, 11, a criação de uma holding, o Grupo Abra, que vai controlar as duas empresas. O novo grupo também terá participação na Viva, da Colômbia, e na Sky Airline, do Chile. O acordo – que ainda precisa ser aprovado pelos órgãos reguladores – deve ajudar as empresas a reduzir seus custos em um momento em que o setor sofre com a ressaca da crise da covid-19 e com a alta do preço do combustível.
Com sede no Reino Unido, o Grupo Abra terá capital fechado. Investidores (sobretudo o fundo Elliot, segundo apurou o Estadão) se comprometeram a injetar até US$ 350 milhões em ações da holding, garantindo liquidez ao grupo. Apesar do negócio, tanto a Gol como a Avianca continuarão com suas marcas e operando separadamente.
De acordo com fontes, ainda não há uma definição se a Gol permanecerá listada na B3. A família Constantino, controladora da empresa brasileira, terá uma participação maior no novo grupo, apurou o Estadão.
O acordo entre as empresas vem em um momento em que a Gol ainda se recupera da crise gerada pela pandemia. Hoje, o valor de mercado da companhia equivale a 38% do total pré-pandemia, e analistas vinham preferindo os papéis da Azul aos da empresa da família Constantino.
A notícia da transação dividiu o mercado entre analistas que consideram a união entre as empresas positiva para a Gol e entre aqueles que veem efeito neutro. As ações da empresa fecharam em queda de 1,67% ontem na Bolsa, acompanhando a tendência para as aéreas diante da desvalorização do real.
Sinergias
Analistas do Goldman Sachs e do Bradesco BBI classificaram a notícia como “positiva” para a Gol, pois a empresa pode ganhar com sinergias no planejamento de rotas, ofertas de produtos e programas de fidelidade.
Já o analista Pedro Bruno, da XP, classificou o acordo como “neutro” para a empresa brasileira, pelo menos por enquanto. “É um acordo exclusivamente entre grupos controladores de empresas aéreas. Eventualmente, pode ser positivo no sentido de criação de sinergias. Mas isso ainda é algo a ser avaliado”, disse.
Para o especialista em aviação André Castellini, da consultoria Bain & Company, a principal vantagem da transação para a Gol será a sinergia na conexão de malhas. Os passageiros da empresa terão mais opções de voos para fora do País.
Castellini diz não acreditar que o impacto será grande para as concorrentes.
Mas, entre Azul e Latam, a segunda deverá sofrer um pouco mais, dado que também tem como um de seus diferenciais a oferta de voos internacionais. “Mas a Latam ainda terá a vantagem de ter mais voos diretos”, afirma o consultor.
Os analistas Stephen Trent e Filipe Nielsen, do Citi, destacaram que o movimento pode desencadear outras operações de fusão ou ampliação de participação no continente. Hoje, a American Airlines tem uma fatia de 5,2% na Gol, enquanto a United Airlines possui 8% da Azul. “Pode ser interessante ver se esses desenvolvimentos aumentam a urgência de a United alcançar um acordo semelhante com a Azul”, escreveram em relatório.
O salvadorenho Roberto Kriete, acionista da Avianca, será o presidente do conselho do novo grupo. Kriete era dono da Taca e foi responsável pela fusão da empresa com a Avianca, em 2009. Ele também fundou a mexicana Volaris, em 2006. Já Constantino de Oliveira Junior, da Gol, será o presidente executivo do grupo. O atual presidente da Avianca, Adrian Neuhauser, e o diretor financeiro da Gol, Richard Lark, serão copresidentes do grupo.
Estadão Conteúdo