Nos bastidores tucanos, o prazo para a viabilidade de Doria vai até março
A vitória de João Doria nas prévias do PSDB, em novembro passado, não encerrou o clima de acirramento dentro do partido. Sem decolar, até agora, nas pesquisas de opinião, o pacto feito para apoiar o vencedor das eleições internas tucanas está sob pressão. Correligionários do governador Eduardo Leite (RS) seguem cobrando do governador de São Paulo resultados eleitorais convincentes — ou podem desembarcar da chapa tucana para ir na direção de alguém que tenha chances contra Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Nos bastidores tucanos, o prazo para a viabilidade de Doria vai até março. Para diminuir as cobranças, o grupo que apoia o governador de São Paulo aposta que ele sobe nas pesquisas a partir de agosto, quando as campanhas estarão em campo.
Com a maioria das pesquisas apontando um segundo turno entre Lula e Bolsonaro — ou até uma vitória do petista no primeiro —, com Sergio Moro (Podemos) se consolidando como terceira via, os analistas não enxergam, por ora, de que forma Doria e tornará competitivo.
“As pesquisas apontam que cerca de um terço do eleitorado brasileiro ainda não fez sua escolha ou não está atento às eleições. Até lá, Doria pode ter espaço para crescer, convencendo esse público”, disse o cientista político Leandro Gabiati.
Para o também cientista político André Rosa, as últimas pesquisas, apesar de serem indicativos relevantes, refletem números de campanhas que ainda não existem. “A gente só vai poder confirmar esses números quando, de fato, começar a campanha e propaganda na televisão e nas redes sociais”, explicou.
União precária
O ex-prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto — que disputou as prévias tucanas e, com a iminente derrota, apoiou Doria contra Eduardo Leite, sobretudo no episódio do problema ocorrido com o aplicativo que seria usado na votação do partido — lembra que, depois da disputa, fechou-se um acordo para todos “caminharem juntos”. Ele cobrou da legenda a “obrigação” de apoiar, nos estados, aqueles que forem indicados.
“Após as prévias, fizemos um acordo que era todo mundo ficar junto. Acho que o Tasso (Jereissati, senador) tem obrigação de apoiar o candidato que o Doria apoiar em São Paulo, assim como o Doria tem obrigação de apoiar o candidato do Tasso no Ceará, e apoiar o Leite e seu candidato no Sul. Se a gente se colocar um contra o outro, vai ser um jogo de perde-perde”, afirmou.
Mas, mesmo assim, dentro do PSDB a pressão sobre Doria e seu grupo não arrefece — inclusive em relação a apoios que ele pretende dar. Na semana passada, caciques tucanos se reuniram em São Paulo para discutir apoio a outro candidato ao Palácio dos Bandeirantes, que consideram com mais chances, para concorrer com Rodrigo Garcia, vice-governador e nome do governador à sua sucessão.
Estiveram presentes os senadores Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP), além do deputado federal Eduardo Cury (SP) e o vereador Xexeu Trípoli. Ventilou-se o nome de Paulo Serra, prefeito de Santo André, que deixaria o PSDB e seguiria para o PSD a fim de amarrar uma aliança supostamente forte com o partido de Gilberto Kassab.
Essa manobra, porém, não tem total amparo nas hostes tucanas. “Eu prego a união. Para as eleições em São Paulo vão o Fernando Haddad, que foi prefeito da capital, e tem o Lula por trás. Tem também o Márcio França no PSB, que perdeu para o Doria a disputa do governo do estado por muito pouco. É uma briga de cachorro grande”, analisou Virgílio.
*Com CB