Explosão do Hunga Tonga-Hunga Ha’apai causa tsunami nas Ilhas de Tonga e no Japão e deixa a população de diferentes países banhados pelo oceano atenta aos seus desdobramentos. Segundo especialistas, efeitos podem ser prolongados
(crédito: AFP)
Um tsunami provocado por uma enorme erupção vulcânica submarina no Pacífico deixa autoridades e a população de diferentes pontos do mundo banhados pelo oceano em alerta. Ondas que chegaram a até 1,20 metros de altura (por isso, o tsunami é classificado como de baixo nível) atingiram, na noite de sábado e na manhã de domingo (horário local), as Ilhas de Tonga e a costa do Japão, inundando cidades e desencadeando alertas em outros países, como Equador, Chile e Estados Unidos. Especialistas acreditam que os desdobramentos do fenômeno podem perdurar por meses e até anos, inclusive com novas erupções. Segundo a agência meteorológica japonesa, mudanças na pressão atmosférica em áreas diversas podem desencadear esse efeito ampliado.
A erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai — localizado em uma ilha desabitada a cerca de 65 quilômetros ao norte de Nuku’alofa, capital de Tonga — durou oito minutos e foi tão forte que foi ouvida “como um trovão distante” nas Ilhas Fiji, a mais de 800 quilômetros de distância, segundo autoridades locais. Imagens feitas do espaço mostram o momento em que a explosão lança um “cogumelo” de fumaça e cinzas ao ar e uma onda de choque pelo mar ao redor. Até o fechamento desta edição, não havia registro de mortos e feridos.
Segundo o vulcanologista Shane Cronin, da Universidade de Auckland, na Nova Zelândia, ainda não está claro se esse é o clímax da erupção, mas é grande o risco de novas explosões ocorrerem. “Um aviso, no entanto, está nas erupções anteriores do vulcão, todas com muitos eventos de explosão separados. Portanto, poderíamos esperar por várias semanas ou mesmo anos de grande agitação vulcânica do vulcão Hunga-Tonga-Hunga-Ha’apai”, escreveu o especialista em seu site pessoal.
“Bombas” em casa
Assustados com o que pode ser a primeira erupção, os tonganeses fugiram para terrenos mais altos. “Foi uma grande explosão”, contou Mere Taufa, que estava em casa preparando o jantar, ao site especializado Stuff. “O chão tremeu, a casa inteira foi sacudida. Veio em ondas. Meu irmão mais novo achava que bombas estavam explodindo perto de nossa casa”, detalhou. Poucos minutos depois, a água invadiu a casa de Taufa, e ela viu o muro da residência de uma vizinha desabar. “Soubemos, imediatamente, que era um tsunami. Dava pra ouvir gritos por toda parte, e todos começaram a fugir para as alturas”, relatou.
A Comissão de Serviços Públicos de Tonga pediu à população que ficasse longe “de todos os lugares que estão ameaçados”, como praias, recifes e costas planas. A chefe dos serviços geológicos do arquipélago, Taaniela Kula, conclamou às pessoas que ficassem em espaços internos, usassem máscaras quando fosse necessário sair de casa (como proteção às partículas tóxicas do vulcão) e que cobrissem os reservatórios de água em caso de chuva ácida.
Em pouco tempo, as consequências da erupção chegaram ao Japão, onde as autoridades registraram uma onda de 1,2 metro na remota ilha de Amami e um tsunami menor em outras partes da costa. Um funcionário de um hotel na cidade de Amami, na província de Kagoshima, contou, ao jornal Japan Times, que se juntou aos hóspedes na evacuação para um terreno mais alto, onde outros moradores também se reuniram. O governo japonês criou um escritório de ligação no Gabinete do primeiro-ministro para acompanhar os desdobramentos da erupção. O fenômeno também foi sentido em Fiji, Samoa Americana e Nova Zelândia.
Suspensões
Após a tomada das ondas em Tonga e no Japão, uma série de alertas foram emitidos por outros países. O Serviço Nacional de Gestão de Riscos (SNGR) do Equador recomendou a suspensão das atividades no litoral do país sul-americano. “Devido a um possível impacto da maré local e das fortes correntes, recomenda-se a suspensão das atividades marítimas e recreativas no litoral do Equador e das Ilhas Galápagos”, informou o SNGR em comunicado. O Escritório Nacional de Emergências (Onemi) do Chile também alertou sobre a possibilidade de um “tsunami menor” atingir a Ilha de Páscoa e parte da costa continental. “Por precaução, saia da área da praia devido a um tsunami menor”, foi a mensagem de emergência que os habitantes das áreas receberam.
Avisos de tsunami também foram emitidos para a Costa Oeste dos Estados Unidos, enquanto o Havaí foi afetado por “inundações menores”. “Saiam das praias, dos portos e das marinas” ao longo da costa da Califórnia até o Alasca, orientou o Serviço Nacional do Clima dos EUA, que previu ondas de até 60 centímetros, fortes correntes e inundações costeiras.
Na Austrália, autoridades disseram que partes do litoral, incluindo Sydney, poderiam ser atingidas por ondas maiores. Os moradores do estado vizinho de Nova Gales do Sul também foram aconselhados a “sair da água e se afastar da costa”. Já o Canadá emitiu um aviso de tsunami para a província de British Columbia. Nova Zelândia, Fiji, Vanuatu e Samoa Americana adotaram medidas semelhantes.
Área de estudo
Outras erupções do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha’apai foram registradas no fim de 2014 e no início de 2015. Acreditava-se que, devido à força das ondas, a ilha desabitada desapareceria em meses, o que geralmente acontece com regiões pequenas que ficam próximas a vulcões em alta atividade. A ilha se manteve de pé, o que fez com que muitos pesquisadores fossem estudar o local e os materiais que se solidificaram. Em 2009, uma erupção submarina perto da região também fez com que o vulcão expelisse vapor, fumaça e cinzas. (CB)