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A emergência de organismos multirresistentes é considerada uma ameaça à saúde global, sendo reconhecida como tal pela Organização Mundial de Saúde. Apesar de bactérias serem a principal preocupação, outros organismos patogênicos também vêm ganhando espaço. Nesse cenário, casos de infecção por Candida auris são de especial importância devido ao seu perfil único de suscetibilidade, que confere resistência a diversas classes de antifúngicos, e seu potencial de causar surtos em ambientes hospitalares.
Em dezembro de 2021, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) confirmou o segundo caso de isolamento de C. auris no Brasil. O primeiro caso foi identificado em dezembro de 2020, em cultura de ponta de cateter de um paciente internado em UTI em um hospital de Salvador (BA). Esse caso foi relacionado ao primeiro surto por esse fungo no país, resultando em 15 casos, com 2 óbitos. Agora, novamente C. aurisfoi identificada em amostra clínica — dessa vez urina — em um paciente de 88 anos internado em um hospital de Salvador.
Candida auris: particularidades
Diferente de outras espécies de Candida, C. auris apresenta algumas características que a tornam um organismo de interesse. Dentre elas, destacam-se:
- Produção de biofilmes tolerantes a antifúngicos com resistência às drogas mais frequentemente utilizadas como tratamento para infecções por Candidaspp. Estudos mostram que até 90% dos isolados de C. auris apresentam resistência a fluconazol, equinocandinas ou anfotericina B.
- Potencial para causar infecções invasivas e de corrente sanguínea, que podem especialmente graves em pacientes imunossuprimidos ou com comorbidades.
- Capacidade de sobrevivência em superfícies, permanecendo viável por longos períodos — semanas ou meses — no ambiente. Além disso, apresenta resistência a diversos desinfetantes utilizados em limpeza hospitalar, incluindo os baseados em quaternário de amônio.
- Propensão em causar surtos devido à dificuldade de identificação pelos métodos laboratoriais aplicados de rotina e à difícil erradicação de ambientes.
Recomendações para os serviços de saúde
Diante da identificação do segundo caso de C. auris no país, a Anvisa reforça algumas recomendações para os serviços de saúde e para os laboratórios de microbiologia. Para os serviços de saúde, recomenda-se:
- Intensificar vigilância laboratorial para identificação de C. auris.
- Reforçar medidas gerais de prevenção e controle de infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS).
- Em caso de infecção suspeita ou confirmada por C. auris, notificar à Anvisa em formulário próprio (“NOTIFICAÇÃO NACIONAL DE SURTOS INFECCIOSOS EM SERVIÇOS DE SAÚDE” disponível no link: https://pesquisa.anvisa.gov.br/index.php/359194?lang=pt-BR) e à Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH) do estado.
Identificado um caso, o que fazer?
Isolados suspeitos de C. auris devem ser enviados para a Rede Nacional para identificação de C. auris em serviços de saúde brasileiros para confirmação. Preenchem os critérios para envio, isolados de Candida não albicans com identificação fenotípica suspeita (triagem positiva para identificação de C. auris por métodos fenotípicos) ou identificados como C. auris por espectrometria de massa MALDI-TOF.
Devem ser encaminhados os isolados provenientes de sangue, urina, ponta de cateter vascular, lavado broncoalveolar, abscessos intracavitários e secreção de ferida cirúrgica.
Saiba mais: Candida auris: fungo multirresistente surge como nova ameaça
Como medidas a serem tomadas na unidade de saúde, medidas de prevenção de IRAS devem ser implementadas e reforçadas, com especial atenção a:
- Higienização das mãos.
- Capacitação e monitoramento da adesão às precauções.
- Adoção de precaução de contato além de precauções-padrão.
- Limpeza e desinfecção de ambientes e equipamentos, preferencialmente com água e sabão/detergente seguida de desinfecção com hipoclorito de sódio 0,1% ou outros saneantes. Não se recomenda o uso de desinfetantes à base de quaternário de amônio.
Fonte: pebmed.com