Miguel Lucena
Escrevi, nesta semana, sobre um sujeito violento, bêbado, preso duas vezes, em 2019 e 2020, por violência doméstica e tentativa de feminicídio, e solto pela Justiça para, finalmente, matar a ex-companheira Drielle Ribeiro da Silva, com quem viveu por quatro anos.
Juvenilton Aquino da Costa, 36 anos, gerente em uma sorveteria, vivia aos tapas e beijos com Drielle, 34, mais aos tapas que aos beijos. Consumindo bebidas alcoólicas em excesso, o casal tinha um relacionamento à base de ciúmes.
Desde 2014, Juvenilton e Drielle frequentavam as delegacias da Polícia Civil do DF, ele como agressor e ela como vítima. A mulher requereu medidas protetivas, apresentadas pelo Delegado de Polícia e deferidas pelo Juízo. O homem foi preso preventivamente duas vezes.
Note-se que eles sempre reatavam a relação depois de todo o bafafá, do acionamento da Polícia, do Ministério Público e da Justiça. É um risco sem tamanho a mulher retomar uma relação depois de o agressor ser preso. Ele não vai esquecer e atribuirá a ela os dias que amargou na prisão.
É quase um suicídio o que Drielle fez: levou Juvenilton para dormir três noites na casa dela, depois de tudo. No quarto dia, resolveram fazer um churrasco e chamaram uma turma, entre os quais algumas mulheres. Pinga vai, cerveja vem, Drielle cisma que Juvenilton está olhando diferente para uma das moças, e começa o moído, o remoer de mágoas, um desqualificando o outro, mas não foi o suficiente para se apartarem e cada um ir para o seu canto. Do moído foram para uma distribuidora de bebidas. Chegaram lá alterados, discutindo, um apontando o dedo para o outro. Beberam mais uns corotes com cerveja e saíram. A discussão continuou, agora com Drielle insistindo para Juvenilton dormir novamente na casa dela, até que veio à tona aquele ressentimento guardado pelo homem quando foi preso nas duas vezes anteriores. Puxou a faca da cintura e, com um ódio desmedido, desferiu na vítima 59 golpes, para que ela nem pensasse em sobreviver.
Quando narro esse episódio, muito triste, é para alertar as mulheres e os homens que o amor e o ódio andam juntos e a tragédia é quase certa quando só resta o desejo carnal em um pote cheio de mágoas.