O militar recebia os malotes, que chegavam a R$ 800 mil, em um dos lugares mais seguros da capital da república: o interior de um quartel
O terceiro sargento da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Ronie Peter Fernandes da Silva (foto em destaque), detido durante a Operação S.O.S. Malibu, deflagrada pela Polícia Civil (PCDF), tinha o costume de receber malas de dinheiro, fruto do esquema de agiotagem liderado por ele.
No entanto, o militar, que está preso preventivamente, fazia questão de receber os malotes, que chegavam a R$ 800 mil, em um dos lugares mais seguros da capital da República: a dependência de um quartel da corporação, em Taguatinga.
Imagens registradas por investigadores da Divisão de Roubos e Furtos da Polícia Civil do Distrito Federal (DRF/Corpatri), flagraram a logística do esquema envolvendo desde o saque feito pelos operadores da organização criminosa até a entrega do dinheiro, no antigo Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (Cefap), onde também funcionava a antiga sede do governo do DF apelidada de Burutinga.
Nos vídeos é possível ver a operadora do esquema, Raiane Gonçalves Campelo e o namorado dela, Alison Silva Lima, entrando em uma agência bancária. Na boca do caixa, a nutricionista sacou montanhas de dinheiro que totalizou R$ 800 mil. A mulher é proprietária da empresa One Nutrição e Estética, em Águas Claras, e aparece como dona de um Porsche usado pelos líderes do bando. A empresa, que tem faturamento mensal de R$ 100 mil, movimentou, entre janeiro e agosto de 2021, R$ 8,8 milhões.
Dinheiro na BMW
No dia em que Raiane e Alison sacaram os R$ 800 mil, seguiram para a unidade da PM para entregar o montado ao sargento agiota. Ele aguardava no interior de uma BMW X4 branca. Nas imagens é possível perceber quando o porta-malas é aberto para que a mala com o dinheiro seja guardada. Logo depois, o militar deixa o batalhão à bordo do carro de luxo.
No quartel, segundo as apurações, ocorria o Curso de Altos Estudos e Aperfeiçoamento da Polícia Militar do Distrito Federal (CAEAp/PMDF). Além da BMW, as investigações identificaram que outros veículos eram usados para transportar o dinheiro, sempre sacando na boca dos caixas em agências bancárias do DF. Ainda eram usados o Jeep Compass branco, um Fiat Uno e um Hyundai, ambos vermelhos.
Vida de luxo
A vida que o sargento levava antes de ser preso é digna de telas de cinema. Suspeito de liderar uma quadrilha o PM morava em mansões, tinha coleção de carros de luxo e, constantemente, fazia viagens a praias paradisíacas.
Toda a rotina de ostentação era registrada nas redes sociais. Apesar de o contracheque do PM indicar vencimentos de R$ 8 mil, o sargento acumulou mais de R$ 8 milhões em contas bancárias com a prática criminosa.
A operação
Durante a ação para desarticular a organização criminosa, investigadores da DRF cumpriram mandados de busca e apreensão em duas mansões de propriedade da família do policial. Segundo as apurações, o militar agia em conjunto com o irmão Thiago Fernandes da Silva, que também foi detido. Os imóveis ficam em Vicente Pires, onde ocorreram as prisões.
Em um vídeo publicado por Ronie Silva no Instagram, é possível ver uma das casas, que conta com piscina, área de lazer, churrasqueira, ambientes climatizados e uma garagem repleta de carros importados.
S.O.S. Malibu
O esquema milionário de agiotagem, extorsão e lavagem de dinheirocapitaneado pelo sargento da PMDF e seu irmão, foi desmantelado em operação deflagrada nas primeiras horas desta terça-feira (16/11), pela Polícia Civil (PCDF). Equipes da DRF cumpriram 15 mandados de busca e 7 de prisão em Vicente Pires, Taguatinga e São Paulo. A operação foi batizada em menção ao nome da concessionária de veículos dos irmãos.
A Operação S.O.S Malibu teve como principais alvos o sargento da PMDF Ronie Peter Fernandes da Silva e seu irmão, o empresário Tiago Fernandes da Silva. Ambos são apontados nas investigações da Coordenação de Repressão a Crimes Patrimoniais (Corpatri) como os líderes de uma organização criminosa especializada no empréstimo de dinheiro a juros exorbitantes, caracterizando a agiotagem ou usura.
Quem não pagava as prestações em dia se tornava alvo de violentas ameaças. Durante as cobranças, além de coagir as vítimas, o grupo tomava veículos e exigia a transferência de imóveis dos endividados. A apuração ainda demonstrou que os valores da agiotagem eram ocultados por meio da compra de veículos de luxo registrados em nome de terceiros, além da utilização de empresas de fachada.
Lavagem de dinheiro
De acordo com as investigações da DRF, nos últimos dois anos, a organização criminosa comprou oito veículos da marca Porsche, de valor unitário próximo a R$ 1 milhão, e, nos últimos seis meses, movimentou mais de R$ 8 milhões, distribuídos em sete contas bancárias.
Três veículos da Porsche e um veículo BMW X4 foram apreendidos durante a operação. Os carros estão avaliados em R$ 3 milhões. Também foram bloqueadas as sete contas bancárias, de pessoas físicas e jurídicas, com o sequestro dos R$ 8 milhões faturados com o esquema.
A engrenagem criminosa era altamente lucrativa e demandava saques em espécie de quantias milionárias. Em ação controlada comunicada à Justiça, equipes de policiais da DRF acompanharam dois saques milionários ocorridos em agências bancárias do DF totalizando de R$ 800 mil e R$ 530 mil.
Organização estruturada
As apurações conduzidas pela PCDF apontaram como funcionava a estrutura da organização criminosa. O esquema era hierarquizado e havia divisão de tarefas. Na cadeia de comando havia os irmãos Ronie e Tiago, que emprestavam os valores e cobravam os endividados, mediante grave ameaça. O sargento da PMDF ainda era responsável pela aquisição dos veículos de alto luxo.
Também foram presos na operação cinco operadores financeiros do grupo, responsáveis pela dissimulação, isto é, pela sequência de transações e saques em contas de empresas de fachada, que visavam conferir aparência lícita aos valores faturados com a agiotagem. Três deles também eram responsáveis pela ocultação do dinheiro, pois cediam os nomes para o registro dos veículos de alto luxo, cujo verdadeiro dono era o sargento Ronie.
Os mandados de prisão, busca domiciliar e apreensão e sequestro foram expedidos pelo juiz da Vara Criminal de Águas Claras. A operação contou com o apoio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil de São Paulo.
Outro lado
Por meio de nota, a PMDF informou que também apura o caso. “A Polícia Militar já instaurou um procedimento apuratório sobre o caso de imediato. A instituição não compactua com qualquer desvio de conduta de seus integrantes. Comprovado os indícios de irregularidades ou crime, todas as medidas cabíveis ao caso serão tomadas”, diz o texto.
Fonte: Na Mira/Metrópoles