A coluna teve acesso aos áudios enviados pelo Policial Militar do DF às vítimas. O PM segue preso por agiotagem
Gravações obtidas pela coluna mostram o modus operandi do terceiro sargento da Polícia Militar do Distrito Federal Ronie Peter Fernandes da Silva (foto em destaque). Preso por liderar uma quadrilha de agiotas, o militar costumava agir com violência e fazer graves ameaças aos devedores.
Em uma ocasião, Ronie da Silva ameaçou “morder” os olhos de um homem que devia dinheiro à quadrilha. “Vou atrás de você na sua casa. Transfere o dinheiro para minha conta. Rouba um, ou vai para o quarto e se mata, mas me paga. Eu estava com a minha família e você pediu para transferir dinheiro. Pediu duas vezes”, disse o PM.
Logo em seguida disparou: “Eu vou morder o seu olho. Vou arrancar o seu olho na mordida. Não vou só te espancar não, vou arrancar os pedaços. O seu e de quem tiver junto. Vai dar o golpe em outro. Porque se você me der a sua vida amanhã não serve. Transfere o dinheiro hoje. Se amanhã você me der R$ 100 mil em dinheiro, para mim não serve”, declarou.
Nos áudios, o agiota também cobra juros exorbitantes e humilha as vítimas. Em uma das negociações, o sargento pegou um carro como garantia de pagamento. As parcelas, entretanto, não foram quitadas, o que gerou revolta no policial.
“Segunda-feira tu já transfere R$ 1 mil daquele juros atrasado.Teve o mês todinho, passou. Os R$ 800 viraram mil. Tem cara que deixa carro de R$ 1 milhão comigo e paga certinho. O seu é R$ 800, você tinha que ter. Como não tem, vai pagar milzinho para aprender”, alertou.
“Quando for pagar o outro, é juros de novo. Brincadeira, bicho, R$ 800 por mês… Se você tivesse vigiando carro no meio da rua você ganhava. É muita comodidade. Dá R$ 20 por dia. Se você tivesse cheirando cola o pessoal te dava. Transfere os R$ 1mil segunda-feira, se você não tiver o dinheiro no mês pode se suicidar, chefe. Sua vida está muito ruim “, finalizou.
Ouça os áudios:
Prisões
O terceiro sargento e o irmão dele Thiago Fernandes tiveram a prisão temporária convertida em preventiva na sexta-feira (19/11). A decisão da Justiça veio um dia depois de a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) fazer o pedido.
Suspeito de liderar uma quadrilha de agiotas, conforme revelou o Metrópoles, o PM morava em mansões, tinha coleção de carros de luxo e, constantemente, fazia viagens a praias paradisíacas. Agora, o policial está preso em um alojamento do 19º Batalhão da PMDF, no Complexo Penitenciário da Papuda.
O pedido foi feito pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) e visa preservar a vida e a integridade física dos endividados e garantir a eficaz instrução, evitando o desaparecimento de bens dados como garantia e bens que serão objeto de medidas judiciais.
Ele ameaçava de morte uma série de pessoas que pegavam dinheiro emprestado.
Salário de R$ 8 mil
Toda a rotina de ostentação era registrada nas redes sociais. Apesar de o contracheque do PM indicar vencimentos de R$ 8 mil, o sargento acumulou mais de R$ 8 milhões em contas bancárias com a prática criminosa.
Durante a ação para desarticular a organização, investigadores da Divisão de Roubos e Furtos da Polícia Civil do Distrito Federal (DRF/Corpatri) cumpriram mandados de busca e apreensão em duas mansões de propriedade da família do policial. Segundo as apurações, o militar agia em conjunto com o irmão Thiago. Os imóveis ficam em Vicente Pires, onde ocorreram as prisões.
Em um vídeo publicado por Ronie Silva no Instagram, é possível ver uma das casas, que conta com piscina, área de lazer, churrasqueira, ambientes climatizados e uma garagem repleta de carros importados.
Veja a casa do sargento:
S.O.S. Malibu
O esquema milionário de agiotagem, extorsão e lavagem de dinheirocapitaneado pelo sargento da PMDF e seu irmão foi desmantelado em operação deflagrada nas primeiras horas de terça-feira (16/11), pela Polícia Civil (PCDF). Equipes da DRF cumpriram 15 mandados de busca e 7 de prisão em Vicente Pires, Taguatinga e São Paulo. A operação foi batizada em menção ao nome da concessionária de veículos dos irmãos.
Veja imagens da operação:
Quem não pagava as prestações em dia se tornava alvo de violentas ameaças. Durante as cobranças, além de coagir as vítimas, o grupo tomava veículos e exigia a transferência de imóveis dos endividados. A apuração ainda demonstrou que os valores da agiotagem eram ocultados por meio da compra de veículos de luxo registrados em nome de terceiros, além da utilização de empresas de fachada.
Lavagem de dinheiro
De acordo com as investigações da DRF, nos últimos dois anos, a organização criminosa comprou oito veículos da marca Porsche, de valor unitário próximo a R$ 1 milhão, e, nos últimos seis meses, movimentou mais de R$ 8 milhões, distribuídos em sete contas bancárias.
Três veículos da Porsche e um veículo BMW X4 foram apreendidos durante a operação. Os carros estão avaliados em R$ 3 milhões. Também foram bloqueadas as sete contas bancárias, de pessoas físicas e jurídicas, com o sequestro dos R$ 8 milhões faturados com o esquema.
A engrenagem criminosa era altamente lucrativa e demandava saques em espécie de quantias milionárias. Em ação controlada comunicada à Justiça, equipes de policiais da DRF acompanharam dois saques milionários ocorridos em agências bancárias do DF totalizando de R$ 800 mil e R$ 530 mil.
Organização estruturada
As apurações conduzidas pela PCDF apontaram como funcionava a estrutura da organização criminosa. O esquema era hierarquizado e havia divisão de tarefas. Na cadeia de comando havia os irmãos Ronie e Tiago, que emprestavam os valores e cobravam os endividados, mediante grave ameaça. O sargento da PMDF ainda era responsável pela aquisição dos veículos de alto luxo.
Também foram presos na operação cinco operadores financeiros do grupo, responsáveis pela dissimulação, isto é, pela sequência de transações e saques em contas de empresas de fachada, que visavam conferir aparência lícita aos valores faturados com a agiotagem. Três deles também eram responsáveis pela ocultação do dinheiro, pois cediam os nomes para o registro dos veículos de alto luxo, cujo verdadeiro dono era o sargento Ronie.
Os mandados de prisão, busca domiciliar e apreensão e sequestro foram expedidos pelo juiz da Vara Criminal de Águas Claras. A operação contou com o apoio do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil de São Paulo.
Outro lado
Por meio de nota, a PMDF informou que também apura o caso. “A Polícia Militar já instaurou um procedimento apuratório sobre o caso de imediato. A instituição não compactua com qualquer desvio de conduta de seus integrantes. Comprovado os indícios de irregularidades ou crime, todas as medidas cabíveis ao caso serão tomadas”, diz o texto.
Com informações do Metrópoles